Campanha Salarial de Impresso: Patrões oferecem metade da inflação, com retroativo parcelado em duas vezes

20160303101500Reajuste proposto pelos jornais equivale a uma perda de R$ 191,23

Depois de terem desmarcado a primeira reunião de mediação da Campanha Salarial 2015/2016 de Mídia Impressa que aconteceria em janeiro, os donos de jornais e revistas apresentaram proposta de reajuste de apenas 5% para corrigir todos os índices econômicos da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). “É o índice que consegui trazer para esta reunião, com pagamento parcelado em junho e setembro”, disse a assessora do sindicato patronal, advogada Christianna Soares, referindo-se ao pagamento dos valores retroativos a 1º de setembro de 2015, data-base do segmento de impresso.

Segundo Christianna Soares, as empresas passam por um momento de crise. “Em março, vai ser possível avaliar melhor a situação econômica das empresas, segundo os departamentos financeiros”, disse. “Essa foi a proposta que consegui trazer para não vir sem nada”, comentou a advogada do Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas (Sindjornais).

Segundo o Departamento Intersindical de Estatísticas e estudos Socioeconômicos (Dieese), o índice oferecido pelos jornais equivale a uma perda de R$ 191,23, no acumulado até janeiro de 2016. “Essa perda pode ser ainda mais elevada, uma vez que as empresas só se propõem a pagar o reajuste abaixo da inflação em junho e setembro”, afirma o economista Reginaldo Aguiar, supervisor técnico do Dieese no Ceará.

“É algo muito grave reduzir poder de compra dos salários”     

A proposta foi imediatamente recusada pelos negociadores do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce), uma vez que o índice não cobre sequer a inflação do período, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), de 9,88%.  “Não sei qual situação é mais impactante para a categoria: se a ausência de uma proposta ou a apresentação de uma proposta tão rebaixada”, afirmou o assessor jurídico do Sindjorce, advogado Carlos Chagas. “É algo muito grave reduzir o poder de compra dos salários”, frisou.

“Esse reajuste significa, na prática, empobrecer os jornalistas cearenses que, apesar de trabalharem num Estado que é a terceira maior economia do Nordeste, recebem um dos mais baixos pisos do País”, disse a presidente do Sindjorce, Samira de Castro. Ela lembrou que, mesmo em anos de crise, como 2008, o sindicato patronal nunca chegou na mesa com uma proposta tão rebaixada. “É uma provocação à categoria”, comentou.

“Vai pegar muito mal”, diz procurador do Trabalho

“Vai pegar muito mal. Aqui a gente fecha com pelo menos a inflação, apesar da crise”, disse o procurador Gérson Marques, que media negociações de outras categorias. Nesta segunda mediação, realizada na tarde de segunda-feira (29/02), no Ministério Público do Trabalho (MPT), o procurador propôs a antecipação dos 5% de reajuste na folha de março, até que as partes acordassem um índice maior. A advogada do Sindjornais disse que qualquer pagamento só pode ser feito em junho.

A comissão de negociação do Sindjorce também ponderou que a antecipação de apenas 5% não antenderia os interesses da categoria. Desta forma, o procurador agendou uma nova mediação para o dia 4 de abril, às 14 horas, no MPT.

O Povo e Diário fazem investimentos

O diretor de Ação Sindical do Sindjorce, Evilázio Bezerra, argumentou que a crise não pode simplesmente ser usada como desculpa para uma proposta tão rebaixada, uma vez que os investimentos dos jornais são perceptíveis. “O jornal O Povo está renovando sua frota de veículos, ao passo em que o Diário do Nordeste comprou 13 kits de equipamentos no valor de R$ 40.000,00 cada”, disse. “É ótimo que as empresas modernizem seus equipamentos e dêem mais condições de trabalho, mas o jornalista não pode ser penalizado com isso. Ao contrário, precisam ser valorizados”, acrescentou.

Publicidade em alta

Apesar da alegada crise, o investimento publicitário em Fortaleza somou R$ 1,391 bilhão (em todas as mídias, incluindo televisão aberta, jornal, rádio e revista) no primeiro semestre de 2015. O montante representa incremento de 6,87% frente ao valor de R$ 1,302 bilhão registrado em igual período de 2014.

Com este crescimento, a Capital cearense subiu da 10ª para a 7ª posição entre os principais mercados publicitários do país. Os dados são do Kantar Ibope Media. “Ainda não foram divulgados os dados do fechamento do de 2015 mas, as informações mostram que o cenário descrito pelos patrões é sempre pior do que os números aferidos pela empresa que acompanha e monitora os principais meios de comunicação do país”, acrescenta Evilázio Bezerra.

Jornalismo premiado, mas jornalistas não são valorizados

A presidente do Sindjorce destaca que a proposta de reajuste rebaixada evidencia a falta uma política de valorização e retenção de talentos nas empresas de comunicação cearenses. “O trabalho dos jornalistas cearenses é referência nacional, tendo destacado as empresas nos principais rankings de premiações. No entanto, os patrões ainda têm uma visão muito limitada da condução do modelo de negócios e totalmente sem política de valorização dos trabalhadores”, afirma.

O Grupo O Povo e o Grupo Edson Queiroz (controlador do Sistema Verdes Mares) integram a 15ª e 16ª posição, respectivamente, no ranking dos “+Premiados Grupos de Comunicação da História”, segundo o Portal dos Jornalistas. Os veículos do Grupo O Povo (Jornal O Povo, Rádio O Povo e TV O Povo) detém 54 prêmios, somando 1.860 pontos. Já os veículos do Sistema Verdes Mares (jornal Diário do Nordeste e TV Verdes Mares) registram 57 premiações que totalizam 1.600 pontos.


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