Curso Abdias Nascimento leva participantes ao reconhecimento dos afrossaberes

Um mergulho nas africanidades – brasileira e cearense -, por meio da discussão dos chamados “Valores Civilizatórios Afro-brasileiros”. Foi essa a proposta do quinto encontro do Curso Abdias Nascimento – Comunicação e Igualdade Racial, realizado no dia 18 de setembro, no Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce). A partir do texto de Azoilda Loretto da Trindade, que foi uma das maiores ativistas da luta contra o racismo, passando pela Pretagogia da professora doutora Sandra Petit e pela “descoberta” dos afrossaberes, a aula teve uma vivência baseada na partilha de experiências e conhecimentos.

Aos alunos e alunas foi proposto partilhar objetos que remetiam às ancestralidades africanas. Assim, sentados em esteiras de palha, ao redor de comida (pipoca) e do fogo (velas), os cursistas se dividiram em grupos e conversaram sobre a simbologia de cada objetivo levado. As experiências mais marcantes foram socializadas com os demais, numa grande roda, evidenciando a circularidade, a oralidade, a ancestralidade, a memória, a corporeidade, a ludicidade e a energia vital – todos valores civilizatórios afro-brasileiros. “A primeira observação que fazemos é a dificuldade relatada pelos alunos de encontrar um objeto. Isso mostra o quanto os valores civilizatórios afro-brasileiros nos são negados historicamente”, explicou a coordenadora pedagógica do curso, professora doutora Silvia Maria Vieira dos Santos.

Professora da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenadora do Núcleo das Africanidades Cearenses (NACE), Sandra Petit destacou a necessidade de trazer para a educação os afro-referenciais. Daí nasceu a Pretagogia, um referencial teórico-metodológico que vem sendo construído há alguns anos e que toma os valores e saberes afrorreferenciados como elementos aglutinadores e condutores das experiências de ensino-aprendizagem. “É um caminho de valorização das nossas heranças e de colocar os afrorreferenciais em nossa educação”, definiu.

Para a professora, a universidade brasileira ainda não se reconhece brasileira, uma vez que a maior parte dos referenciais teóricos e de produção de conhecimento são euro-norte-centrados. “A universidade é branca. Até mesmo Paulo Freire, o maior pedagogo brasileiro, é mais reconhecido fora do país”, exemplificou. Para ressignificar esse espaço, surgiu a proposta da Pretagogia, como método que gera o que denomina de Pertencimento Afro. “Pertencimento é uma questão política. Quando negamos as nossas raízes africanas e assumidos a identidade do colonizador, reforçamos parte do processo de violência racista”, pontuou.

Partindo desse referencial, as equipes trabalham na construção das suas árvores de afrossaberes (marcadores de africanidades). Cada aluno elencou sete afrossaberes para cada sete anos de vida até sua idade atual. Esses valores – conhecimentos que cada um adquiriu de alguma parcela de sua africanidade – foram unificados e materializados nas árvores, confeccionadas pelas equipes de maneira lúdica (tintas, canetas, recortes, colas coloridas). Cada árvore ganhou um nome e vai, a partir do próximo encontro, ser apresentada a todos os cursistas.

O encontro teve, ainda, a degustação de comidas originárias da cultura afro-brasileira, como acarajé, vatapá, mugunzá salgado e doce, bolo de milho e pé-de-moleque.

Texto: Samira de Castro
Fotos: Sindjorce

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