O CURSO

Apresentação

O projeto gratuito Curso Dandara dos Palmares – Gênero, Raça e Etnia na Comunicação, uma realização do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce) e da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), pretende preparar profissionais da comunicação para o desenvolvimento de ações relacionadas à gênero, raça e etnia. A ideia é promover, por meio da formação oferecida a jornalistas, repórteres fotográficos, publicitários/as, radialistas e comunicadores/as populares, a diversidade, a igualdade de gênero, o combate à violência contra a mulher e o racismo, além do fomento à cultura afro-brasileira nos meios de comunicação.As entidades buscam, conforme o Capítulo V da Constituição, que trata da Comunicação Social, representar a diversidade da população, apontando, especialmente, ações afirmativas nos meios de comunicação. O projeto aposta no pleno cumprimento dos princípios dos Direitos Humanos e marcos internacionais referentes a gênero, raça e etnia, à luz do direito à comunicação.

Justificativa

No Brasil, a mídia, quando não incorre na negação ou estereotipação, sub-representa mulheres, sejam cisgênero ou transgênero, e a população negra. Nestes termos, pretendemos trabalhar a dissolução dos preconceitos ou condutas discriminatórias relacionadas a gênero, sexualidade e questões étnico-raciais nos produtos comunicacionais, assim como desconstruir os discursos deturpadores sobre identidade de gênero.

Dados do Fórum Brasileiro da Segurança Pública de 2018 mostram que 536 mulheres foram vítimas de agressão física a cada hora no país. Isso significa que, em média, a cada sete segundos uma mulher é agredida no Brasil. O levantamento aponta que as mulheres são agredidas e mortas unicamente pelo fato de serem mulheres e há também o recorte de raça e idade. Jovens negras são a maior parte das vítimas.

No Ceará, conforme dados da Secretaria de Segurança Pública do Estado, uma mulher é vítima de feminicídio a cada 15 dias, ou seja, aproximadamente duas mulheres foram assassinadas por condição de gênero por mês em 2018. Os números são referentes ao período de janeiro a novembro do ano passado.

Assim como a violência contra a mulher, o racismo se expressa num volume crescente, evidenciado pelos casos que explodiram, como o do jovem morto por um mata-leão de um segurança do Extra no Rio de Janeiro, e do aumento das injúrias cometidas nas redes sociais. Estas questões são representativas de uma sociedade adoecida que finge que não tem nada de errado com ela.

Na pesquisa “A distância que nos une – Um retrato das Desigualdades Brasileiras”, da ONG britânica Oxfam, dedicada a combater a pobreza e promover a justiça social, há a estimativa que apenas em 2089, daqui a pelo menos 72 anos, brancos e negros terão uma renda equivalente no Brasil.

A projeção comprova o que os estudos sociológicos sobre o Brasil explicam: os fenômenos que provocam as desigualdades de gênero e raciais são bastante complexos justamente porque estão relacionados a questões culturais e estruturais da nossa sociedade.

O fato é que as legislações de enfrentamento à violência contra a mulher e contra o povo negro são importantes, mas são pouco eficientes quando não se alteram as condições culturais e sociais que propiciam este cenário.

Incidir sobre a comunicação e seus meios para a dissolução da cultura machista, sexista e racista é fundamental para a alteração das condições sociais e posturas individuais que legitimam o ódio e o preconceito, que sustentam a desigualdade.

Assim, torna-se fundamental o desenvolvimento de formação de profissionais de imprensa e de comunicação para a produção de ações que caminhem na erradicação de todas as etapas do ciclo da violência racista e machista.

Tal esforço, de formação complementar em comunicação com o viés dos Direitos Humanos, é por natureza uma política educativa, que deve constar com investimento público e deve ser prioridade não só das entidades da sociedade civil, mas do próprio Estado.

Fica muito explícito que é longo o caminho em busca de igualdade e justiça. Passa pelas maneiras de ver e ser visto na mídia, pelos modos de comunicar, que não podem mais incorrer no preconceito, não podem cair na invisibilidade negra e nem podem silenciar diante desta realidade.

É exemplar o caso do Jornal Nacional, da TV Globo, que, prestes a completar 50 anos no ar, teve a sua primeira apresentadora negra somente em 16 de fevereiro de 2019, quando Maria Júlia Coutinho ancorou o programa.

A mídia é machista e racista, sim. É preciso romper com a escalada de silêncio e chamar atenção para que as declarações racistas, misóginas, homofóbicas e classistas devem ser combatidas. Estimular a comunicação antiviolência racial e contra a mulher é romper o ciclo do silêncio que mata.

Sendo assim, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce), entidade que há quase 66 anos desenvolve ações que objetivam a defesa do jornalismo e dos jornalistas no Ceará, assim como a superação das desigualdades que são impostas aos trabalhadores e à sociedade, a partir de experiências que visam a entender e pesquisar a comunicação, renova o seu compromisso com a promoção da equidade de gênero e da diversidade ético-racial e anuncia um programa gratuito e livre para discussão de gênero, raça e etnia na comunicação.

A promoção dos Direitos Humanos de todos e todas no Brasil é um desafio, constituído de um processo formativo de mão dupla: de entendimento e de superação. Especialmente na comunicação, queremos desenvolver junto a profissionais e gestores da área o entendimento da necessidade de desencaminhar a tendência de vulgarização de determinados grupos sociais. Com isso, expressamos a necessidade de engajamento da sociedade para o enfrentamento do sexismo, do machismo, da misoginia, do racismo e da LGBTIfobia, especialmente nos meios de comunicação.

O Curso Dandara dos Palmares – Gênero, Raça e Etnia na Comunicação –  leva o nome da liderança feminina negra que lutou contra o sistema escravocrata do século XVII e uma das principais comandantes do histórico Quilombo dos Palmares, companheira de Zumbi, liderou as falanges femininas do exército negro palmarino. Assim, eleva o nome de sua homenageada, a mulher que não tinha limites quando estava em jogo a liberdade.

Dandara foi morta, com outros quilombolas, em 6 de fevereiro de 1694, após a destruição da Cerca Real dos Macacos, que fazia parte do Quilombo de Palmares, mas sua imagem segue viva e pode ser vista em cada pessoa que se identifica com suas origens, luta por igualdade, acredita em seus sonhos e “faz da insegurança sua força e do medo de morrer seu alimento, por isso me parece imagem justa para quem vive e canta no mal tempo” (Kleber Henrique – professor de história).

O Curso acontecerá no âmbito das atividades da Década Internacional das e dos Afrodescendentes (2015-2024), quando a comunidade internacional reconhece que os povos afrodescendentes representam um grupo distinto cujos Direitos Humanos precisam ser promovidos e protegidos.

Por ser o espaço privilegiado de discussão e elaboração sobre o jornalismo no Ceará, o Sindjorce é a entidade credenciada para realização deste projeto social. Tem em sua trajetória a realização dos cursos de formação Camutuê – Comunicação Livre de Racismo; Gênero Raça e Etnia (ONU Mulheres); Comunicação, Saúde e Direitos das Mulheres (ONU Mulheres); Curso Abdias Nascimento – Comunicação e Igualdade Racial; Comunicação e Direitos LGBTI+; assim como rodas de conversa e oficinas que tratam não só do aperfeiçoamento do jornalismo, da comunicação, mas também do desenvolvimento dos direitos humanos.

O Sindjorce compõe a Comissão de Mulheres Jornalistas da Federação Nacional dos Jornalistas e o Núcleo de Jornalistas LGBTI+ do Ceará. A entidade possui, ainda, assento fixo, com um representante titular e outro suplente, no Conselho Estadual de Defesa dos Direitos Humanos do Ceará (CEDDH-CE), representando os trabalhadores da área da comunicação social.

Por fim, com o desenvolvimento crescente das novas mídias digitais, precisamos, mais do que nunca, dar visibilidade aos problemas da população negra e feminina cearense, de forma equilibrada e positiva na mídia, rompendo com o ciclo de repetição de estereótipos. Um desafio para ao jornalismo e para toda a comunicação do Ceará.

Objetivo Geral:

Capacitar, de forma gratuita, 52 profissionais da comunicação do Ceará para as temáticas de gênero, raça e etnia em curso com carga horária de 80 horas\aula e realizar seminário de 8 horas de duração para um público de 100 pessoas.

Objetivos específicos:

  • Incorporar a dimensão de gênero e étnico-racial na formação profissional de trabalhadores da comunicação;
  • Promover a diversidade no Jornalismo, assim como na comunicação;
  • Combater as discriminações relacionadas à gênero, sexualidade e questões étnico-raciais nos produtos comunicacionais, assim como desconstruir os discursos deturpadores sobre identidade de gênero;
  • Disseminar contribuições das mulheres e da população negra para a sociedade brasileira, como um todo e, mais diretamente, para profissionais da comunicação;
  • Oferecer formação de profissionais da comunicação, tendo como base os Direitos Humanos;
  • Contribuir, pelo caminho da ação educativa, para a erradicação dos efeitos das ações discriminatórias;
  • Criar condições para que as empresas, organizações e entidades produtoras de comunicação utilizem, de forma autônoma, a proposta desenvolvida pelo projeto;
  • Fortalecer a articulação de redes de defesa das comunicadoras mulheres e os/as comunicadores negros/as;
  • Produzir produtos comunicacionais que combatam as violências contra as mulheres e à população negra;
  • Estimular o desenvolvimento e inovação em tecnologias de comunicação;
  • Refletir sobre o sexismo, o machismo, a misoginia, o racismo e a LGBTIfobia, especialmente nos meios de comunicação, e o impacto nas relações de trabalho;
  • Ampliar o conhecimento e a compreensão dos profissionais de comunicação sobre a história de luta das mulheres e dos/as afrodescendentes.