Penúltimo encontro do Curso Dandara dos Palmares mostra exemplos de mídia plural

A escolha consciente da perspectiva de gênero com o recorte de raça e etnia nos conteúdos jornalísticos começa com formação, passa pelo compromisso ético das e dos profissionais no combate às desigualdades; pela mudança no padrão de narrativa e nas imagens escolhidas para a transmissão da equidade de gênero e da igualdade racial na mídia. A tarefa não é simples, diante de um contexto de redações cada vez mais precarizadas. Mas não é impossível. E se multiplicam os exemplos positivos nas chamadas mídias independentes.

Sobre “Mídia e Representatividade”, o nono encontro do Curso Dandara dos Palmares – Gênero, Raça e Etnia na Comunicação traz, nessa terça-feira (29/10), experiências positivas como o portal de notícias Ceará Criolo (feito pelos jornalistas Bruno de Castro e Rafael Ayala, e pelas publicitárias Jéssica Carneiro, Tatiana Lima e Rayana Vasconcelos) e o curta-metragem “Os Cabelos de Yami”, da jornalista, diretora e roteirista Luizete Vicente. A aula inicia às 18h, do auditório do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce).

Na ocasião, a jornalista Samira de Castro, diretora de Comunicação do Sindjorce e 2ª Vice-Presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), apresentará dicas de boas práticas jornalísticas, abordando gênero, raça e etnia. “Jornalismo é o locus da resistência: saber administrar as pressões cotidianas, reverter a auto-censura e trabalhar com a narrativa que leve em conta o real interesse público. Se vivemos numa sociedade fundamentada no racismo e no cis-héteropatriarcado, essas são questões que precisam ser pautadas e discutidas na mídia”, pontua.

A dirigente sindical reforça que o Código de Ética dos Jornalista Brasileiros estabelece como dever da categoria profissional “combater a prática de perseguição ou discriminação por motivos sociais, econômicos, políticos, religiosos, de gênero, raciais, de orientação sexual, condição física ou mental, ou de qualquer outra natureza”. “É preciso, no entanto, admitir o sexismo, o racismo e o etnocentrismo para que possamos combater e superar as barreiras impostas por esses fenômenos. Só assim, teremos uma imprensa realmente livre”.

Para mostrar que é possível, sim, fazer diferente, a coordenação do curso traz o exemplo do portal de notícias Ceará Criolo, há um ano em atividade, oriundo de uma outra formação do Sindjorce: o Curso Abdias Nascimento – Comunicação e Igualdade Racial. Para não ficar apenas no Jornalismo, a secretária-geral do Sindjorce exibirá o filme com seu roteiro e direção “Os cabelos de Yami”. “A comunicação abrange múltiplas linguagens, profissões e áreas. Sempre é possível pensar e fazer diferente. Desde a escolha de de modelos para um filme comercial às fontes para um texto ou fotos para uma matéria. É preciso enxergar a diversidade como parte do fazer diário”, afirma Samira de Castro.

Representatividade das redações

Pesquisa realizada em 2018 pela Diversa – newsletter da agência de jornalismo ÉNois, aprontou que, entre 64 veículos, menos de 30% têm ações voltadas para representatividade racial nos seus locais de trabalho. O salário é desigual entre brancos e negros: a maioria dos jornalistas negros ganha até 3 salários mínimos e a dos brancos, justamente acima de 3 salários. E cerca de 30% dos profissionais negros que responderam a pesquisa são freelancers, ou seja, não atuam de forma fixa nas redações.

Alguma solução para melhorar esse cenário? Um dos primeiros passos é ver raça e negritude “como vetor que explica o país e determina quem somos”, diz Simone Cunha, editora da newsletter. Indicadores de diversidade incluem critérios de contratação escolha de pautas e fontes, e contextualização de reportagens a partir de perspectivas raciais. “Sem diversidade na redação é difícil ter um produto diverso, que registra e questiona a realidade a partir da visão da maioria da população”, avalia Simone Cunha.

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