“Racismo é um tema tabu no Brasil”, afirma a jornalista Cleidiana Ramos

“Apesar das críticas que fazemos a Gilberto Freyre, não dá para discutir o Brasil de hoje sem analisarmos a dicotomia casa grande e senzala, com tudo o que tem no meio dela”. A afirmação é da jornalista, professora e pesquisadora Cleidiana Ramos, palestrante da aula inaugural do Curso Abdias Nascimento – Comunicação e Igualdade Racial. Doutora em Antropologia e mestra em Estudos Étnicos e Africanos, ela falou aos cursistas e convidados sobre o tema “Mídia e relações ético-raciais: um diálogo desafiador”, abordando o processo de formação do Brasil  e o papel da mídia na manutenção de estereótipos em relação ao povo negro e à falsa democracia racial no país.

Segundo Cleidiana Ramos, a população brasileira convive com um problema histórico e crucial: o racismo, considerado um tema tabu no Brasil. “As pessoas não discutem o racismo. Esse mito de que a gente não tem tensões por conta do racismo é extremamente persistente. E isso acaba fazendo com que a gente não consiga discutir o que é praticamente básico na formação do Brasil”, pontuou. A jornalista dividiu sua aula em quatro momentos: “Brasil um país multiétnico”, “O racismo estruturado e estruturante”, “Gênero como articulação de resistência e combate” e, por fim, “Desafios para uma abordagem étnico-racial na Comunicação”, onde apresentou seu trabalho sobre as questões étnicas no jornal A Tarde, da Bahia.

Para a jornalista, o processo de formação do Brasil se funda na depreciação do “outro”. “Todo o nosso sistema colonial brasileiro foi construído na desconstrução de dois grupos étnicos fundamentais: povo originário ou os povos indígenas, que durante muito tempo foram considerados os que deveriam ser dominados e completamente aculturados, ou seja, retiradas todas as suas referências culturais; e um outro grupo que é retirado de um determinado lugar e trazido para as colonizações nas Américas, principalmente a colonização portuguesa, que são as civilizações africanas, civilizações diversas, que são grandes cidades estado, grandes impérios, essas pessoas são trazidas pra aqui e tradas como não gente. É nesse contexto que a gente vai formar o Brasil”, explicou.

Ceidiana Ramos destacou, ainda, o papel das mulheres negras e indígenas nos processos de resistência à exploração, citando, por exemplo, a quase invisibilidade de Dandara, em relação a Zumbi. Sobre a mídia, a jornalista destacou a importância de discutir o tema racial com pautas que lancem luzes não sobre sobre a história do povo negro, mas também a partir da desconstrução dos estereótipos. No jornal A Tarde, ela integrou projetos de coberturas especiais que, inicialmente, abordavam o Dia da Consciência Negra (20 de Novembro) e depois passaram a fazer parte da rotina da redação. O jornal chegou, inclusive, a ter líderes de religiões de matriz africana entre seus colunistas fixos.

Solenidade de abertura

A abertura da formação pioneira do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) contou a participação da professora doutora Zelma Madeira, titular da Coordenadoria Especial de Políticas para a Promoção da Igualdade Racial do Governo do Estado; e de Sérgio Granja, titular da Coordenadoria da Igualdade Racial Município de Fortaleza. Também participaram do evento a professora doutora Silvia Maria Vieira dos Santos, coordenadora pedagógica do Curso Abdias Nascimento; a presidenta da Federação dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal do Ceará (Fetamce), Enedina Soares; Rafael Ferreira, representando o Núcleo de Africanidades Cearenses (Nace/UFC); e o estudante Lucas Matheus, do coletivo de juventude negra Enegrecer.

Aberta a convidados, a atividade lotou o Espaço Cultural SindBar na noite da terça-feira, 21 de agosto. Na ocasião, a diretora-presidente do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (IPEAFRO), Eliza Larkin Nascimento, fez uma saudação aos cursistas, em vídeo, falando sobre a atuação do patrono da formação, Abdias Nascimento, como jornalista e militante dos direitos do povo negro. Além do IPEAFRO, são parceiros da iniciativa a Universidade Estadual do Ceará (UECE) e a Universidade Internacional da Integração da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab), que irão certificar os participantes na modalidade extensão universitária.

Texto: Samira de Castro

Fotos: Evilázio Bezerra


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