Reforma da mídia é prioridade para garantir democracia no Brasil

Num país polarizado, que enfrenta grave crise institucional, política e econômica, a luta pela democratização dos meios de comunicação – incluindo a internet – deve ser tarefa fundamental dos movimentos sociais e sindicais. Essa foi a avaliação dos participantes da aula pública “Mídia e Golpe”, realizada no Acampamento do Povo Cearense por Lula Livre, no dia 13 de abril, na Praça Murilo Borges, em Fortaleza/CE.

Na plateia estavam atentos os integrantes dos movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Trabalhadores Sem Teto (MTST) e Trabalhadores Atingidos por Barragens (MAB), além de militantes de partidos progressistas, dirigentes sindicais e de juventudes. Junto com outras entidades e organizações, os movimentos ocuparam por sete dias a praça em frente à sede da Justiça federal no Ceará, como protesto contra a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Reforma da mídia

“Nossa tarefa política só será completa quando nós assumirmos a bandeira da democratização da mídia como reforma número um desse país”, avaliou Rafael Mesquita, coordenador do Comitê Cearense do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC/CE). O  secretário-geral do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) fez um breve histórico do início do FNDC, um movimento idealizado pelo também jornalista e professor Daniel Hertz, autor do livro “A história secreta da Rede Globo”.

Rafael Mesquita enfatizou a necessidade de se fazer uma leitura crítica dos meios de comunicação, uma vez que estes se utilizam das audiências ainda massivas para fazer a guerra ideológica. O jornalista, que também é diretor do Departamento de Educação da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), utilizou como exemplo um resgate temporal sobre “os golpes da Globo contra o povo brasileiro”, quando e maior emissora de TV aberta do Brasil manipulou, por exemplo, o debate presidencial entre Lula e Collor, em 1989.

“A cobertura da Globo e dos demais veículos de comunicação sobre o impeachment da Dilma é um novo capítulo na história dessa emissora, que apoiou a ditadura de 1964 e veio pedir desculpas depois”, lembrou. Segundo ele, os veículos da mídia empresarial adotam uma cobertura partidarizada e ideológica de direita contra os interesses da classe trabalhadora – o que é a negação do Jornalismo.

“A prisão de Lula representa uma vitória dos meios de comunicação no imaginário social que legitima parte da sociedade”, disse Rafael. “Para desenvolver o poder popular, fazer o Brasil da cidadania, da justiça social, a gente vai ter que enfrentar o monopólio dos meios de comunicação. Tem que fazer a chamada reforma da mídia”, ponderou o dirigente.

Crise da democracia e da comunicação

Para Isabelle Azevedo, do coletivo de comunicadoras da Marcha Mundial das Mulheres, a crise da democracia brasileira, golpeada pelo impeachment de Dilma e agora com a prisão de Lula, na tentativa de impedir sua candidatura, reflete a crise da comunicação de massa. “As empresas adotaram o discurso das fake news quando sua credibilidade já estava ameaçada (por coberturas tendenciosas). Fake news é a profissionalização da mentira”, disse.

A jornalista lembrou o papel da Globo no fomento ao golpe de 2016, quando a emissora concedeu 33 horas de coberturas de protestos contra a presidenta Dilma em sua programação. “A Globo parou até as novelas não só para transmitir, mas para convocar as pessoas para os atos, alguns dos quais se diziam contra a corrupção”, frisou.

Segundo Isabelle Azevedo, o movimento da mídia de dizer que a corrupção no Brasil começou com o PT veio em 2005, com  ação penal 470, que a Globo batizou de “esquema do mensalão”. Para ela, a internet também é espaço de disseminação de ódio e de todas as notícias falsas. “Há também a disputa de redes, mas nós estamos sempre resistindo e criando alternativas para fazer nossa comunicação”.

Arquitetura da destruição

Camila Garcia, jornalista da Consulta Popular e do jornal Brasil de Fato no Ceará, reforçou que a Globo estimula a cultura do ódio e divide o país, numa estratégia que a emissora utiliza há décadas. A campanha de pedir ao telespectador para gravar um vídeo falando o que ele quer para o futuro é um exemplo. A televisão filtra os depoimentos e veicula apenas o que casa com seu discurso anti-corrupção.

Na avaliação da jornalista, a Globo  construiu a opinião pública sobre o que é corrupção na novela Vale Tudo, quando um dos personagens notoriamente corrupto, em vez de ser punido, deixou o Brasil em jatinho particular, dando uma “banana” para o país. “Naquela época, a mensagem que se queria passar era de impunidade”. No ano seguinte à novela, os brasileiros foram às urnas e elegeram presidente um candidato que se dizia caçador de marajás.

No processo recente, Camila lembra que a grande mídia tem colocado o judiciário como arauto da verdade, em detrimento dos demais poderes. “O golpe de 2016 teve a chamada arquitetura da destruição: mídia, judiciário e Congresso”, destacou. Ela lembrou que o capital estrangeiro na mídia acaba afetando a soberania nacional, o que pode ser explicado pela defesa da mídia na entrega do pré-sal e no apoio às privatizações dos setores financeiro e elétrico.

Celular: o coquetel molotov de hoje

O hacker Uirá Porã, da Mídia NINJA, lembrou que a internet está sob disputa e que, assim como o espectro de radiodifusão deveria ser livre, a rede mundial de computadores também deveria ter seus usos potencializados pelos diversos atores sociais.

“O Facebook é, de novo, o capital tirando a gente do foco. Em vez de estamos militando, tirando fotos dos buracos e dos problemas do bairro e mandando para os canais da Prefeitura, ficamos postando fotos da nossa vida pessoal, e nossos dados vão servindo de moeda para o Zuckerberg lucrar dinheiro”, comentou.

Afirmando que “a Globo é a Odebrecht da comunicação, a JBS da mídia, Uirá disse que o Brasil sempre foi visto como o país que mais usa a internet. “Então, está literalmente nas nossas mãos! O celular é o coquetel molotov do nosso tempo. Ao mesmo tempo, é fruto da escravidão da China”, ponderou o midiativista.

Fotos: Lúcia Estrela


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