Sindjorce participa de atos contra a ditadura militar em São Paulo

O transcurso dos 55 anos do golpe civil-militar de 1964 foi motivo de protestos em todo o país, à despeito da normativa do presidente Jair Bolsonaro para que as Forças Armadas “comemorassem” a data. Em São Paulo, dois grandes atos contra o governo militar que perdurou no Brasil de 1964 até 1985 – inclusive com forte apoio das empresas da grande mídia empresarial hegemônica – foram realizados, no domingo (31/03). O Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) participou da atividade na Avenida Paulista, representado pela presidente, Samira de Castro; o secretário-geral, Rafael Mesquita, e o delegado junto à Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Washington Feitosa.

Na sexta-feira (29/03),  após a reunião do Conselho de Representantes da FENAJ, a qual o Sindjorce se fez presente, jornalistas brasileiros prestaram uma homenagem ao colega de profissão Vladimir Herzog, o Vlado, morto pelos militares em São Paulo. Em nome de todos os operários da notícia torturados e mortos, os dirigentes sindicais de 13 estados reforçaram o grito pela liberdade e pela democracia, repudiando a tortura e as violações de direitos.

Herzog foi assassinado no dia 25 de outubro de 1975, num antigo prédio da rua Tomás Carvalhal, no Bairro do Paraíso, em São Paulo, onde funcionava o Destacamento de Operações de Informações (DOI), departamento do Centro de Operações de Defesa Interna, (CODI). Então diretor de jornalismo da TV Cultura e responsável pelo telejornal “Hora da Notícia” o jornalista fora procurado na noite anterior em seu local de trabalho por dois agentes que pretendiam levá-lo para “prestar depoimento” sobre suas supostas ligações com o Partido Comunista Brasileiro, agremiação que funcionava na clandestinidade desde o golpe militar de 1964.

Herzog apresentou-se ao DOI/CODI espontaneamente na manhã seguinte. Ficou preso com mais dois jornalistas, George Benigno Jatahy Duque Estrada e Rodolfo Oswaldo Konder. Pela manhã, Vlado negou qualquer ligação ao PCB. A partir daí, os outros dois jornalistas foram levados para um corredor, de onde puderam escutar uma ordem para que se trouxesse a máquina de choques elétricos. Para abafar o som da tortura, um rádio com som alto foi ligado. Posteriormente, Konder foi obrigado a assinar um documento no qual ele afirmava ter aliciado Vlado “para entrar no PCB e listava outras pessoas que integrariam o partido.” Logo, Konder foi levado à tortura, e Vlado não mais foi visto com vida. Os militares forjaram seu suicídio dentro da carceragem.

A ditadura militar foi o período mais sombrio da história recente do Brasil, em que direitos políticos e civis foram cassados, crianças, mulheres (inclusive grávidas) e homens foram torturados. Centenas de assassinados foram cometidos pelo regime militar, vitimando também famílias que nunca puderam enterrar os corpos de seus entes desaparecidos.

Relatório aponta vítimas e colaboradores do regime no Ceará

Pelo menos 13 jornalistas foram vítimas da ditadura militar no Ceará em função do exercício profissional. Destes, oito foram indenizados pelo Estado por terem sido perseguidos sob a acusação de participação em atividades políticas entre 1961 e 1979. A conclusão é do relatório final da Comissão da Verdade, Memória e Justiça dos Jornalistas do Estado, lançado em dezembro de 2014, durante o Encontro Estadual dos Anistiados Políticos, no auditório da Casa José de Alencar.

Baseado em dados obtidos por meio do Arquivo Nacional, da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), da Associação 64/68 – Anistia, do acervo do historiador Aírton de Farias e de depoimentos pessoais, entre outras fontes de pesquisa, o relatório aponta o nome de informantes e confirma a colaboração das empresas de comunicação cearenses com o regime militar. No levantamento, aparecem os nomes do jornalista e professor do Curso de Comunicação Social da UFC, Teobaldo Landim, do Sistemas Verdes Mares e do O Povo, os dois maiores grupos de comunicação do Estado.

Criada pelo Sindjorce para apurar violações de direitos humanos de integrantes da categoria no exercício do jornalismo, a Comissão da Verdade dos Jornalistas foi presidida por Messias Pontes até o seu falecimento, em 2013. Demitido, sequestrado, agredido e censurado durante o regime militar, Messias é um dos oito jornalistas indenizados pelo Estado. Ele foi preso pela Polícia Federal, em 1972, em função de um programa na Rádio Assunção que abordava a viagem do presidente Nixon à China.

Além de uma oportunidade de resgatar a verdade factual, a memória histórica dos jornalistas e da imprensa cearense para o conhecimento das novas gerações de profissionais, essa pesquisa foi uma homenagem à memória de Messias Pontes, que não pode fazer a leitura do relatório final. A Comissão da Verdade dos Jornalistas do Ceará foi  composta por Eliézer Rodrigues (relator), Nazareno Albuquerque, Marilena Lima e Rafael Mesquita.

Jornalistas vítimas da ditadura no CE em função do exercício profissional
1. Frota Neto
2. Milano Lopes
3. Nazareno Albuquerque
4. Rangel Cavalcante
5. Sabino Henrique

Indenizados pelo Estado por meio da Comissão de Anistia Wanda Sidou
6. Blanchard Girão
7. Durval Aires
8. Edmundo Mais
9. Inácio Almeida
10. Luciano Barreira
11. Messias Pontes
12. Paulo Verlaine
13. Zelito Magalhães


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