Vergonhoso: Patrões oferecem apenas 1% de reajuste para jornalistas

Na prática, a proposta patronal representa uma perda de R$ 56,84 no poder de compra dos jornalistas que ganham o piso salarial

Nem o mais pessimista jornalista do estado do Ceará acreditaria que os donos de jornais e revistas tivessem a cara de pau de oferecer a vergonhosa proposta de apenas 1% de reajuste salarial à categoria. Mas o absurdo aconteceu nesta quarta-feira, 6 de fevereiro, na sexta rodada de negociação para a construção da Convenção Coletiva de Trabalho dos Empregados em Empresas de Jornais e Revistas, na seda da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Estado do Ceará (SRTE/CE).

O indecente percentual apresentado pelos representantes patronais está muito abaixo da inflação registrada para a data-base do segmento (1º de setembro de 2017), que foi de 3,64% segundo o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Na prática, a proposta patronal representa uma perda de R$ 56,84 no poder de compra dos jornalistas que ganham o piso salarial. Em seis meses sem o reajuste, já que a campanha salarial está aberta desde setembro, a perda é de R$ 341.04.

Na oportunidade, o secretário-geral e o assessor jurídico do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Ceará (Sindjorce), respectivamente Rafael Mesquita e Carlos Chagas, perguntaram três vezes seguidas ao preposto patronal, Neto Medeiros, a justificativa para um aumento tão insignificante.

Em sua terceira tentativa de justificar a proposta, Neto Medeiros voltou a repetir os cansados argumentos de que o setor de mídia impressa passa por crise, mas não soube ou não quis apresentar números que comprovassem as supostas dificuldades enfrentadas pelos sócios do Sindjornais, entre eles Diário do Nordeste e O Povo.

O preposto tampouco mencionou os elevados investimentos do periódico do Grupo Edson Queiroz em reformas na redação e até na fachada do prédio do Sistema Verdes Mares, bem como a contratação de consultoria milionária para a integração das mídias. Também não citou a quantidade de vendas de assinaturas digitais dos jornais O Povo e Diário do Nordeste, nem os investimentos em projetos especiais de conteúdos pagos que geram receitas.

Em sua defesa, o representante dos donos dos jornais chegou a citar exemplos de Pernambuco, mas não foi capaz de responder nada quando os representantes do Sindjorce colocaram números positivos de outros estados. Vale ressaltar que, na campanha salarial passada, os jornalistas pernambucanos conquistaram 3,64% de reajuste e até novos direitos.

“Na Era da Desinformação, no momento em que a sociedade mais precisa do jornalismo e, por consequência, as empresas mais precisam dos jornalistas, os patrões querem destruir os direitos da categoria. Vocês, na verdade, deveriam é oferecer trabalho decente para que os profissionais cumpram sua missão, que é, inclusive, de relevância social”, criticou Rafael Mesquita durante a reunião.

Ao final da discussão, a bancada dos trabalhadores voltou a questionar se os empregadores levariam adiante o vexatório índice representado. Em sua resposta, o negociador patronal chegou a dizer que, num mundo ideal, não teria nem reajuste.

“É revoltante ver que os empresários viram as costas para os seus trabalhadores e submetam a categoria aos seus piores pesadelos. Eu teria vergonha de colocar isso em mesa, que nem sequer é a metade da inflação oficial. Vocês querem humilhar os jornalistas cearenses com essa esmola”, retrucou o secretário-geral do Sindjorce.

A pior negociação da história

Os jornalistas apresentaram inicialmente uma demanda de 8% de elevação salarial, em ofício enviado ao setor empresarial ainda em julho de 2018, que só começou a negociar no fim do ano passado.

Ao mesmo tempo em que propõem o pior reajuste da história do jornalismo cearense, os empresários de mídia apresentaram a demanda de alteração de 18 cláusulas da Convenção Coletiva de Trabalho de impresso, buscando a retirada ou redução de conquistas históricas dos profissionais.

Nesta perspectiva, estão ameaçados o direito à creche integral até os seis anos para filhos dos/as jornalistas, a gratificação de 25% para a área policial, a gratificação de chefia, o adicional por matéria paga, o adicional especial de hora-extra, o pagamento por reportagem especial, a diária de viagem e o adicional por fotos e ilustração negociadas.

Também são alcançados nesta varredura os dispositivos que tratam de transferências, estabilidade na pré-aposentadoria, prestação de serviços a mais de uma empresa e defesa judicial.

Nova data de negociação

Uma nova mediação na SRTE/CE deve acontecer no dia 20 de fevereiro, às 8h30. Na oportunidade, a comissão de negociação Sindjorce cobrou que o Sindjornais traga para a mesa as respostas aos questionamentos e ponderações feitas ao longo das rodadas anteriores. Sobre isso, o Sindicato dos Jornalistas lembrou que seria mais produtivo a presença de donos ou representantes das chefias das redações, pessoas que compreendam o funcionamento dos jornais e que possam conduzir a avaliação das cláusulas diante da realidade e não de abstrações construídas por profissionais de recursos humanos e consultorias que não conhecem o real funcionamento de empresas jornalísticas.


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