Jornalistas do O Povo rechaçam proposta da empresa e apresentam contraproposta com reajuste, abono maior e vale-alimentação universal

Após oito meses de cobrança, jornal retoma negociação do Acordo Coletivo, mas proposta inicial é considerada insatisfatória pela categoria

Foto: Sindjorce

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce) realizou, na última terça-feira (15), reunião com os jornalistas do jornal O Povo para relatar os termos da proposta apresentada pela empresa na negociação do Acordo Coletivo de Trabalho. Após análise, a categoria rejeitou a proposta e aprovou contrapropostas que serão formalmente apresentadas ao jornal nesta quarta-feira (16), com exigência de resposta rápida.

O presidente do Sindjorce, Rafael Mesquita, relatou aos jornalistas o conteúdo da reunião realizada com Wil Robson, representante do O Povo. Segundo ele, a empresa justificou a demora para negociar alegando tentativa de reativação do Sindjornais, sindicato patronal dos jornais, que teria um novo estatuto incluindo veículos digitais. No entanto, divergências na finalização do documento patronal impediram o registro da nova entidade. Diante do impasse, a empresa decidiu retomar a negociação diretamente com o sindicato laboral.

A proposta apresentada, no entanto, foi considerada insatisfatória pela categoria. De todas as cláusulas levadas pelo Sindjorce — muitas delas sem impacto financeiro — a empresa abordou apenas uma: a reivindicação histórica da implantação do vale-alimentação em pecúnia. O O Povo informou ter realizado um estudo sobre a possibilidade de adesão ao Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT), mas alegou dificuldade de fazer o desembolso inicial, mesmo com a possibilidade de compensação fiscal. Diante disso, nenhuma medida concreta foi proposta e o tema não avançou.

“É ainda mais grave que reivindicações importantes — que não geram custo adicional à empresa e poderiam ser viabilizadas por programas federais de incentivo — não avancem por falta de compromisso e inabilidade do jornal em reconhecer e regulamentar esses direitos”, afirmou Rafael.

Na pauta financeira, a empresa propôs pagamento de abono salarial referente aos sete meses de retroativo salarial (de setembro de 2024 a fevereiro de 2025), nos seguintes valores, parcelados em três vezes:

R$ 669,50 para jornada de 5h (3x R$ 223,16)

R$ 875,50 para jornada de 6h (3x R$ 291,83)

R$ 1.133,00 para jornada de 7h (3x R$ 377,66)

Para o ponto alto da pauta, mais decepção: a proposta do jornal é de reajuste salarial de apenas 3%, com vigência a partir de 1º de março de 2025 — abaixo da inflação da data-base, que foi de 3,71% pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC).

O presidente do Sindjorce lembrou que a pauta da entidade propunha um reajuste mínimo de 6,71%, correspondente à inflação acumulada somada a uma parcela de reposição das perdas salariais históricas da categoria, a ser aplicada de forma escalonada nos próximos três anos. Ele também rebateu a tentativa da empresa de justificar a proposta com base na reoneração da folha de pagamento, lembrando que, durante os anos em que teve desoneração total da folha, O Povo não adotou qualquer medida de valorização dos jornalistas. “Não dá para usar esse argumento agora como justificativa para ignorar uma reivindicação legítima e viável”, pontuou.

Os jornalistas do jornal O Povo foram unânimes em considerar inaceitável qualquer reajuste abaixo da inflação. Reforçaram que, mesmo diante de um cenário de estabilidade econômica e crescimento do PIB, a proposta da empresa é um desrespeito à categoria. Como contraproposta, aprovaram o índice de 5,20%, correspondente ao INPC acumulado até 31 de março de 2025.

“Qualquer valor abaixo disso seria ainda mais ultrajante, considerando que o piso salarial da categoria, hoje de R$ 2.523,65, não alcança sequer dois salários mínimos. Como exigir qualidade na informação se o salário pago aos jornalistas não cobre nem o básico para uma vida digna?”, destacou Rafael.

A proposta de abono da empresa também foi duramente criticada pelos jornalistas. A categoria, incomodada com o desrespeito à data-base, afirmou que os valores apresentados são incompatíveis com o período acumulado de retroativo e não se justificam, já que o abono não impacta a empresa com impostos. Como ressaltou o presidente do Sindjorce, é inaceitável um abono inicial de apenas R$ 500. Diante disso, foi aprovada a seguinte contraproposta:

R$ 1.000 para jornada de 5h

R$ 1.300 para jornada de 6h

R$ 1.500 para jornada de 7h

Além disso, a categoria aprovou cláusula considerada essencial para o novo acordo: a implantação definitiva do vale-alimentação em pecúnia, universal para todos os jornalistas, com valor diário de R$ 25. Hoje, a empresa não tem transparência sobre a política de alimentação via permutas com restaurantes, e os profissionais denunciam que apenas os jornalistas são excluídos da concessão do benefício via ticket ou cartão, já garantido às demais categorias da empresa.

A proposta do Sindjorce é que o benefício seja viabilizado via PAT, aproveitando a estrutura de incentivo fiscal existente. “A viabilidade é real. Seria um ultraje não fazer. A exclusão dos jornalistas precisa acabar”, finalizou Rafael.

As contrapropostas aprovadas pela base serão protocoladas junto ao jornal nesta quarta-feira (16), quando o presidente do Sindjorce também cobrará mais celeridade da empresa nas respostas.

Outros pontos importantes, como jornada de trabalho, escalas, controle de horas e compensações, serão tratados em nova reunião a ser solicitada com o setor de administração e recursos humanos. Segundo o sindicato, há problemas sérios de organização funcional no jornal que têm implicado no descumprimento de direitos da categoria.

DEIXE UMA RESPOSTA