Projeto “Fala Pajubá” leva letramento em direitos LGBTI+ a profissionais de comunicação no Ceará

Imagem: Reprodução

Criado para provocar reflexões e mudanças concretas na forma como a população LGBTI+ é retratada nos meios de comunicação, o projeto Fala Pajubá – Programa de Formação em Comunicação e Direitos LGBTI+ é executado neste semestre com ações formativas em Fortaleza, Caucaia e Maracanaú. Financiado pela Secretaria da Diversidade do Governo do Estado do Ceará (Sediv), o projeto prevê visitas institucionais a veículos de mídia, órgãos públicos e organizações sociais, além de oficinas de letramento voltadas a jornalistas, radialistas, assessores e comunicadores em geral.

Coordenado e idealizado por Rafael Mesquita, presidente do Sindjorce, o projeto nasce da urgência em qualificar a cobertura midiática sobre diversidade sexual e de gênero e enfrentar a LGBTI+fobia que ainda permeia parte do noticiário e dos produtos comunicacionais brasileiros.

A seguir, confira a entrevista com Rafael Mesquita sobre os objetivos do projeto, os desafios enfrentados na cobertura midiática da pauta LGBTI+ e a importância de promover uma comunicação mais diversa, respeitosa e transformadora.

Em que consiste o projeto?

O Fala Pajubá é um programa de formação voltado à promoção dos direitos da população LGBTI+ a partir da qualificação de profissionais da comunicação. Ele busca sensibilizar, formar e ampliar o repertório de jornalistas, radialistas, assessores de imprensa e outros comunicadores sobre as questões que envolvem a diversidade sexual e de gênero. O projeto se estrutura em visitas institucionais a veículos de mídia, organizações públicas e entidades da sociedade civil, com o objetivo de dialogar sobre a importância de uma comunicação inclusiva e livre de preconceitos, além da realização de oficinas formativas em três municípios da Região Metropolitana de Fortaleza: Fortaleza, Caucaia e Maracanaú.

Por que o título é Fala Pajubá?

Escolhemos o título Fala Pajubá como uma forma de afirmar a identidade, a resistência e a cultura LGBTI+. O pajubá é um dialeto usado historicamente por pessoas LGBTI+, especialmente travestis e pessoas trans, como forma de comunicação, acolhimento e proteção em meio à marginalização. Ao trazer essa linguagem como nome do projeto, estamos valorizando esse saber ancestral e propondo uma comunicação mais inclusiva, plural e comprometida com os direitos humanos.

O que pretendemos fazer com as visitas e oficinas?

As visitas têm o objetivo de dialogar com profissionais da comunicação, gestores públicos e representantes de organizações da sociedade civil sobre a importância de uma abordagem responsável e respeitosa das pautas LGBTI+, combatendo estigmas e promovendo boas práticas. Já as oficinas serão momentos formativos e vivenciais, voltados para o letramento em direitos LGBTI+, onde vamos trabalhar temas como identidade de gênero, orientação sexual, legislação, comunicação antidiscriminatória e produção ética de conteúdos. Nosso intuito é transformar a comunicação em uma ferramenta de promoção de cidadania e combate à LGBTI+fobia.

Como vai ser a oficina?

A oficina será uma formação interativa e dialógica, com duração média de 4 horas, que une teoria, vivência e prática. Trata-se de um letramento em direitos LGBTI+ voltado para profissionais da comunicação, onde os participantes serão provocados a refletir sobre o papel da mídia na reprodução de estereótipos ou na promoção de direitos. Teremos momentos de escuta de experiências, apresentação de conceitos fundamentais sobre diversidade sexual e de gênero, estudo de casos reais de cobertura midiática e exercícios práticos de reescrita de narrativas e construção de pautas inclusivas.

A oficina se propõe a ser um espaço de escuta e construção coletiva, onde o conhecimento acadêmico e a vivência dos sujeitos LGBTI+ se encontram para provocar reflexões críticas sobre o papel da comunicação na reprodução de violências ou na afirmação de direitos. Mais do que ensinar, buscamos promover deslocamentos – éticos, políticos e afetivos – na forma como se produz, se pauta e se narra a vida de pessoas LGBTI+ nos meios de comunicação.

O projeto vai deixar algum material como legado?

Sim. Como entrega concreta aos profissionais participantes, vamos distribuir durante as oficinas o Guia de Jornalismo e Comunicação LGBTI+, um material que reúne orientações práticas, conceitos fundamentais e exemplos de boas práticas para a produção de conteúdo comprometido com os direitos humanos e com a diversidade sexual e de gênero. O guia é fruto do próprio processo formativo, construído a partir das experiências de minhas pesquisas acadêmicas, amadurecidas pela experiência como presidente do Sindjorce. Ele funcionará como uma ferramenta de consulta permanente, apoio profissional e referência ética para comunicadores e comunicadoras que desejam construir narrativas mais responsáveis, representativas e transformadoras.

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