Sindjorce rebate argumentos patronais e cobra agilidade na Campanha Salarial 2025 de Rádio e TV

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce) deu início, no dia 6 de fevereiro, à Campanha Salarial 2025 com a primeira rodada de negociações junto ao Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão do Ceará (Sindatel). O encontro contou com a participação do presidente do Sindjorce, Rafael Mesquita, do assessor jurídico da entidade, Carlos Chagas, além do presidente do Sindatel, Marcos Tardin, e do assessor patronal Neto Medeiros. A reunião evidenciou que o processo negocial será desafiador, diante da resistência inicial das empresas em avançar com a pauta da categoria.

Reajuste Reivindicado: Correção da Inflação e Recuperação de Perdas

O Sindjorce apresentou uma proposta de reajuste que busca não apenas corrigir a inflação acumulada, mas também iniciar a recuperação das perdas salariais históricas da categoria, estimadas em 10,52%. Para este ano, a reivindicação contempla o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) da data-base de 1º de janeiro, de 4,77%, somado a uma parcela de 3,5% referente a essas perdas históricas. O percentual total reivindicado para 2025 é de 8,27%.

O presidente do Sindatel, Marcos Tardin, sinalizou dificuldades para atender à proposta, mencionando o impacto da reoneração da folha de pagamento sobre as finanças das empresas. O Sindjorce rebateu o argumento, destacando que a reoneração será implementada de forma gradual e que, em 2025, não haverá um impacto imediato significativo que justifique a resistência patronal. “As empresas sequer apresentaram cálculos concretos que comprovem a inviabilidade do reajuste”, afirmou Rafael Mesquita.

Reoneração da Folha: Argumento Frágil para Justificar Resistência

O Sindatel utilizou a reoneração da folha de pagamento como justificativa para postergar decisões sobre o reajuste salarial. No entanto, o Sindjorce esclareceu que essa mudança ocorrerá de forma gradual até 2027. Em 2025, o modelo prevê uma redução progressiva da alíquota sobre a receita bruta das empresas e um aumento sobre a folha de pagamento, que será de 25%, enquanto 80% da alíquota anterior sobre a receita bruta ainda estará em vigor.

Além disso, estudo da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) aponta que a desoneração da folha de pagamento no setor da comunicação, que chegou a R$ 462 milhões em 2024, não gerou novos empregos para jornalistas. Ou seja, mesmo com os benefícios fiscais, as empresas não ampliaram o quadro de profissionais, tampouco repassaram ganhos para valorização salarial da categoria. Esse histórico evidencia que o argumento da reoneração é, na prática, uma tentativa de manter o arrocho salarial.

O Argumento do ‘Piso Elevado’ Não Reflete a Realidade da Categoria

O Sindatel também apresentou um estudo da Federação Nacional das Empresas de Rádio e Televisão (Fenaert), apontando que o piso salarial dos jornalistas do Ceará está entre os quatro maiores do país. O Sindjorce, entretanto, contestou a comparação, destacando que ela desconsidera as especificidades regionais e os diferentes contextos de negociação.

“Essa análise não leva em conta que outros estados possuem datas-bases diferentes, índices inflacionários distintos e, principalmente, convenções coletivas que garantem benefícios adicionais, como participação nos lucros e resultados, estabilidade e condições de trabalho mais favoráveis. O que, na prática, compensa e, muitas vezes, supera o valor do piso salarial nominal”, destacou Mesquita.

Embora o Ceará tenha registrado um pequeno ganho real em 2024, fruto de intensa luta da categoria, ele foi ínfimo frente à perda salarial acumulada ao longo dos anos. O contexto é de defasagem, com salários que ainda não recuperaram plenamente o poder de compra, especialmente após o impacto econômico da pandemia.

Negociação Lenta Prejudica a Categoria

Apesar da urgência da pauta, o Sindatel pediu mais de um mês para dar um retorno sobre as propostas, alegando necessidade de mais tempo para análise interna. O Sindjorce contestou o prazo, considerando-o excessivo e prejudicial à categoria. “Quanto mais tempo se demora, maior o passivo salarial gerado, com o acúmulo de valores retroativos que as empresas terão de arcar. É um atraso que impacta diretamente o bolso dos trabalhadores”, destacou o assessor jurídico do Sindjorce, Carlos Chagas.

O Sindjorce reforçou que o processo negocial não se resume ao reajuste salarial. A pauta contempla uma série de cláusulas sociais e econômicas que tratam de direitos históricos, condições de trabalho e melhorias urgentes para a categoria. “O que pedimos é atenção devida e compromisso com um processo que impacta diretamente a vida dos jornalistas. Não se trata apenas de números, mas de valorização profissional e dignidade no trabalho”, afirmou Mesquita.

Próximos Passos: Mobilização e Pressão por Respostas

O Sindjorce seguirá pressionando o Sindatel para que o processo de negociação avance de forma célere e transparente. A entidade também convoca a categoria para acompanhar de perto cada etapa da campanha salarial, mantendo-se mobilizada para enfrentar os desafios que se apresentam.

“Nós sabemos que o caminho será difícil, mas é justamente por isso que precisamos da força da categoria. Não vamos aceitar justificativas frágeis para postergar o que é direito dos jornalistas cearenses: um reajuste justo e o reconhecimento do valor do nosso trabalho”, concluiu Mesquita.

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