No último ano, foram registrados 429 episódios de violência contra jornalistas, dos quais 175 partiram diretamente do presidente da República. Os números foram apresentados pelo jornalista Luís Nassif, do Jornal GGN. Ele participou, na sexta-feira, dia 24 de setembro, da roda de conversa “Jornalismo em tempos de ódio”, junto com a jornalista Patrícia Campos Mello.
A atividade integrou a programação do 39° Congresso Nacional dos Jornalistas, realizado pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), em parceria com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro (SJPMRJ) e o Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce).
Segundo Nassif, o “ativismo judiciário” está colocando o jornalismo em risco: “Os juízes aplicam as penas de acordo com a cara do réu que está na frente dele”, afirmou. Ele criticou o que chama de “grau de discricionaridade” dos juízes que resulta em multiplicação de penas sem critérios.
Nassif disse, ainda, que o mais assustador é o silêncio de juízes ante decisões que “desmoralizam” o próprio Judiciário. Otimista, afirmou que as recentes decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), como as tomadas quanto à Lava Jato, levam a crer que o sistema judiciário será reconstruído. De qualquer forma, vê perseguições que ocorrem contra os juízes considerados “garantistas” dentro do próprio Judiciário.
Roteiro pronto para 22
Patrícia Campos Mello repórter especial, colunista da Folha de São Paulo e autora do livro “Máquina do Ódio”, destacou a preocupação com o processo eleitoral do próximo ano. Ela afirmou que o “roteiro de 22” já está pronto e seguirá o texto que resultou em ações como a invasão do Capitólio, nos EUA, para garantir a manutenção de Trump como presidente.
Para ela, “nenhum governo gosta do jornalista. Isso é do jogo. Porém, hoje, a agressividade é muito grande, inclusive com ações online. Ao mesmo tempo, tentam emplacar Medidas Provisórias para atingir o faturamento das publicações. Não bastasse, o atual governo publicamente pressiona empresários para não anunciar em veículos ‘não patrióticos’”, observou.
Sobre matérias que são denúncias, Nassif afirmou que são “instrumentalizadas” pelo veículo, de acordo com seus interesses.
Patrícia, que denunciou o esquema das fake news da eleição de 2018, disse que, apesar das notícias terem sido minimizadas, no início, algumas providências foram tomadas a partir das publicações. Citou como exemplo as atuais investigações que estão sendo feitas pelo TSE.
“Vamos continuar a fazer denúncias. Esse é o nosso papel. O que vão fazer com as denúncias é fora do meu controle. Acho que, aos poucos, as coisas melhoram, apesar de que não estou otimista em relação ao ano que vem”, afirmou.
O 39° Congresso Nacional dos Jornalistas tem apoio da Fundação Friedrich Ebert (FES), da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), da Associação dos Funcionários do BNDES (AFBNDES), da Federação Única dos Petroleiros (FUP), da Confederação Nacional dos Trabalhadores da Educação (CNTE) e da TIM.