Pelo sétimo ano seguido, o Ceará figura como o Estado com maior número de casos de violência contra jornalistas na Região Nordeste. Das 11 ocorrências registradas em terras nordestinas, sete foram no Ceará, segundo o Relatório da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa – Ano 2019, divulgado ontem (16/01) pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), no Rio de Janeiro.
Nacionalmente, o Ceará é o 5º Estado mais violento para o trabalho dos jornalistas. Fica atrás de São Paulo (44 ocorrências), do Distrito Federal (13 casos), do Rio de Janeiro (12 registros) e do Paraná (oito casos). Empata com o Espírito Santo, onde também foram registrados sete episódios de violência contra a categoria.
Os episódios de violência registrados no Estado em 2019 foram: ameaças/intimidações (um caso), cesuras (um caso), impedimentos ao exercício profissional (três casos) e violência contra a organização sindical (dois casos).
O presidente do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) e diretor de Mobilização da FENAJ, Rafael Mesquita, comenta que, em relação a 2018, o número de ocorrências caiu no Estado, já que foram 11 relatos naquele período. No entanto, a situação preocupa, sobretudo porque os casos são sub-notificados e, muitas vezes, sequer levados ao conhecimento das empresas e do Sindicato pelos jornalistas vitimados.
“O Sindjorce tem insistido nas denúncias públicas de cerceamento ao exercício profissional e de outros casos, sempre orientando a categoria a registrar boletim de ocorrência em situações extremas como ameaças (inclusive virtuais), intimidações, agressões físicas e verbais. Queremos que os operários da notícia tenham condições de atuar em um ambiente seguro, o que é essencial para o exercício do jornalismo”, frisa Mesquita.
A segunda vice-presidenta da FENAJ e diretora de Comunicação do Sindjorce, Samira de Castro, chama atenção para o que considera uma “naturalização” da violência contra profissionais da Comunicação. “Vivemos um momento de polarização política em que a mídia e seus profissionais são utilizados como sacos de pancada, numa estratégia de desvio dos fatos e da verdade factual. Desqualificar o jornalismo e o trabalho dos jornalistas é desqualificar a democracia, e nenhum cidadão pode corroborar com esse processo, nem mesmo o Presidente da República”, comenta.
Entre as medidas que o Sindjorce adota para combater a violência estão: a denúncia pública das violações por meio de notas e ofícios às empresas de Comunicação e aos órgãos competentes; o diálogo com as forças de segurança (na busca de construção de um protocolo de segurança); a orientação aos profissionais em coberturas de risco (por meio de distribuição de cartilhas, realização de debates e treinamentos); o acompanhamento das vítimas de violência em depoimentos; denúncias e abertura de procedimentos no Ministério Público do Trabalho e, por fim, a tentativa de colocar em convenções coletivas de trabalho normas que garantam a segurança da categoria.
Sudeste é a região mais violenta
O Sudeste mantém-se como a região brasileira em que mais ocorreram casos de violência direta contra jornalistas, repetindo tendência registrada nos últimos seis anos. Em 2019, foram registradas 44 ocorrências na região, representando 46,81% do total de 94 agressões.
As tentativas de descredibilização da imprensa por meio de ataques a veículos de comunicação e a jornalistas, por serem genéricas e generalizadas, tendo como objetivo atingir à instituição imprensa, não foram divididas por região/estado.
Também repetindo os anos anteriores, o estado de São Paulo foi o mais violento com 19 casos (20,21% do total). No Rio de Janeiro, foram 12 casos e, no Espírito Santo, sete. Minas Gerais foi o estado da região com menor número de agressões contra jornalistas: seis.
A Região Centro-Oeste passou à condição de segunda mais violenta para o exercício da profissão, lugar que nunca havia ocupado, desde o início da série histórica dos Relatórios. O maior número de agressões foi no Distrito Federal, que também passou ao posto de segundo estado mais violento, ultrapassando o Rio de Janeiro, que mantinha a posição nos últimos anos. Foram 13 casos (13,83%) de violência no DF. Em Mato Grosso, houve quatro casos e, em Mato Grosso do Sul, um.
No Sul do país, foram 15 casos de agressões diretas a jornalistas, o que representa 15,96% do total. O Paraná foi o estado com maior número de ocorrências (oito), seguido do Rio Grande do Sul (cinco). Em Santa Catarina, foram dois casos.
Segundo o levantamento, que tem por base as denúncias recebidas pelos Sindicatos de Jornalistas filiados à FENAJ, os 11 casos que ocorreram no Nordeste representam 11,7% do total registrado no país em 2019. Além do Ceará, também foram verificadas ocorrências de agressão direta à categoria em Alagoas (dois casos), na Bahia (um caso) e em Pernambuco (um caso).
A Região Norte segue com menor número de casos de violência contra jornalistas. Em 2019, foram seis ocorrências (6,38% do total). No Amazonas e em Rondônia, foram dois casos em cada, e, no Pará e no Tocantins, um caso.
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