Para despertar o sentimento de afro-brasilidade e, sobretudo, de orgulho ao exibi-la, é necessário mexer no racismo e na memória: o primeiro como algo a ser enfrentado e a segunda a ser resgatada para que a presença africana que habita em nós possa emergir livremente. Os conceitos e as construções sociais do racismo foram tema do quarto encontro do Curso Abdias Nascimento – Comunicação e Igualdade Racial, realizado na terça-feira (11/09), na sede do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce). A fala inicial, a cargo do professor doutor Luís Tomas Domingos, emocionou os participantes e deixou muitos pontos para reflexão da turma.
“Não trago para vocês a definição de racismo porque não há definição. Racismo se sente! O negro sente que ali não é o seu lugar porque a sociedade está lhe dizendo isto”, pontuou o docente do curso de Antropologia da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab). Para Domingos, “é difícil entender o que é o racismo, mas esse incômodo precisa ser tratado no âmbito do inconsciente individual e do imaginário coletivo”. O professor falou da dimensão psicológica do racismo, das relações de poder e dominação, da necessidade de ressaltarmos os saberes dos povos africanos e da diferença entre ser livre e ser liberto.
“Para combater o racismo, a gente precisa sair de si e olhar para o outro, entender que nos foi ensinado que o negro era inferior, e portanto passível de ser desumanizado e escravizado, unica e exclusivamente por causa da cor da sua pele”, frisou Domingos, que é coordenador do Núcleo dos Estudos Africanos e Afro-Brasileiros (NEAAB/Unilab). Ressaltou que é preciso ver o outro em função da sua dimensão humana. “Como trazer os saberes onde não fique só o negro ou só o branco e, no meio, o abismo entre eles? Como viver juntos de maneira que eu não veja o outro apenas pela cor da pele e sim vermos uns aos outros em função da nossa dimensão humana?”, questionou.
Segundo Luís Tomas Domingos, o liberto vê sempre o outro (o não negro) como modelo, ao passo em que a pessoa livre compreende a dimensão da sua existência, das suas referências e saberes ancestrais. No entanto, para ele, escolas e universidades continuam ensinando conceitos eurocêntricos e produzindo um saber em função da riqueza material. “Precisamos questionar o que aprendemos e para que aprendemos?”. Frisou que a sociedade vive uma crise humana que precisa ser superada.
“Munhtu, Ubunthu é filosofia africana que se resume em ‘eu sou porque nós somos’, na perspectiva de ser humano livre e não liberto, pelo processo da conquista da sua identidade de ser e estar no mundo através dos saberes e conhecimentos particulares e universais. E em África se diz que cada um de nós é um raio de sol: nascemos para brilhar. Pois eu digo a vocês: brilhem, não tenham medo de bilhar e nem apaguem o brilho do outro”, finalizou Luís Tomas Domingos, recebendo calorosos aplausos da turma.
Para a jornalista Cláudia Monteiro, a aula do professor Domingos “foi mais do que extraordinária porque tratou do racismo que existe na camada mais entranhada do inconsciente e do imaginário coletivos”. “Africano, ele nos brindou com tamanho conhecimento que nos deixou pensativos das mais diversas formas. Seu discurso de como foi a despersonalização do africano, o transformando de ser humano livre em negro é algo que me remeteu a muita coisa que eu já tinha tido contato, mas não entendia o significado”, escreveu em seu perfil numa rede social.
Texto: Samira de Castro
Fotos: Sindjorce
