Medida pelo INPC, a inflação acumulada nos três anos está em 17,39%
Mesmo com os jornalistas ainda arcando com custos que antes eram das empresas, por conta da modalidade “home office“, sendo submetidos a jornadas ininterruptas e tendo que conviver com diversos meses de redução salarial ou suspensão dos contratos de trabalho, os proprietários de jornais e revistas no Ceará apresentaram proposta de reajuste de apenas 3,5% para cobrir os três anos sem reposição salarial.
A proposta é ainda pior se considerado que não há data concreta para a aplicação do salário reajustado, que só seria efetivado na folha do mês de fechamento da negociação ou no mês subsequente – uma evidente desconsideração da data-base da categoria, que é 1° de setembro de cada ano. Os patrões acrescentam, ainda, que não haveria o pagamento de retroativo e sim um abono de 60% do salário do empregado vigente no mês anterior ao fechamento da Convenção Coletiva, para compensar os períodos de 2019, 2020 e 2021.
Além disso, o Sindicato das Empresas Proprietárias de Jornais e Revistas do Ceará (Sindjornais), adiciona que as demais cláusulas econômicas seriam reajustadas em 3,5%, nas mesmas condições de aplicação do reajuste salarial, com exceção da cláusula de auxílio creche, que seria congelada no valor da CTT anterior, em R$ 700,00.
A proposta financeira está muito aquém da necessidade de recomposição do poder de compra dos salários dos trabalhadores. A inflação acumulada nos três anos, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), está em 17,39%, considerando os índices das datas-bases de 2019 (3,28%), de 2020 (2,94%) e de 2021 (10,42%).
Envida ao Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) no fim de setembro, a rebaixada propositura foi rejeitada pela comissão de negociação laboral, que apresentou contraproposta de reajuste escalonado. Semanas depois, os proprietários de jornais e revistas desprezaram a nova demanda e reafirmaram o percentual de 3,5% e o abono.
Diante da situação, a proposição das empresas foi tema de reunião com a categoria, realizada na noite desta terça-feira (26/10). Os jornalistas receberam com perplexidade, insatisfação e revolta o que foi proposto pelos empresários de jornais e revistas.
“Estas negociações se arrastam desde o segundo semestre de 2019, quando fechamos o reajuste de 2018 e a nova Convenção, com o compromisso das empresas, na época, de ainda naquele ano aditivar o instrumento e acrescentar o aumento de 2019. Entretanto, por conta dos seguidos adiamentos das discussões, provocados pelos patrões, as tratativas entraram por 2020, sendo interrompidas durante o ano da pandemia e só retomadas em meados de 2021, após seguidas cobranças e manifestações públicas e nas redes provocadas pelo Sindicato dos Jornalistas. É indigno e cruel o que as empresas jogam sobre nós agora”, expôs o presidente do Sindjorce, Rafael Mesquita.
Como destacou o dirigente, a proposta patronal foi feita depois de vários meses em que os patrões se negaram a negociar e isso acontece com a quebra de compromissos anteriormente assumidos pelas empresas.
Como encaminhamento do encontro realizado virtualmente, o Sindicato laboral fará consulta sobre uma série de proposições de ordem jurídica colocadas pelos profissionais presentes. Em paralelo, a entidade dará início à consulta virtual, em que será possível se manifestar anonimamente em relação aos rumos desta campanha salarial e quais ações de mobilização poderão ser realizadas nos próximos dias.
O Sindicato também irá realizar ações nas redes sociais, denunciando a intransigência patronal e reforçando as demandas da categoria.
“Contra o arrocho salarial, devemos ampliar nossa luta. Converse com seus colegas, participe das assembleias e se some às atividades organizadas pelo Sindjorce”, finaliza Rafael Mesquita.