Por Nathália Avelino (*)
Nos dias 26, 27, 28 de julho, a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) promoverá eleição direta para sua Diretoria e para a Comissão Nacional de Ética. Entre os candidatos está a cearense Samira de Castro, indicada para encabeçar a chapa intitulada “Unidade na Luta – Em Defesa do Jornalismo dos Jornalistas e da Democracia”, que conta com outros 35 membros de todo o Brasil, distribuídos entre executiva, vices-regionais, secretarias e conselho fiscal. Todos os jornalistas filados há seis meses e em dia com suas obrigações sindicais poderão votar.
Quem é Samira de Castro?
Samira de Castro é jornalista graduada pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e ingressou no mercado de trabalho em 1997, como repórter de economia no Jornal Diário do Nordeste.
Sua história no movimento sindical dos jornalistas começa na base, quando seus colegas de trabalho a viam assumindo uma postura de reivindicar direitos e defender interesses coletivos como pagamento de horas extras, gratificação para os subeditores e criação de pautas ligadas aos direitos humanos, empoderamento feminino e desenvolvimento humano e social. Então, a cearense foi convidada a assumir espaços no Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce) e lá esteve desde 2010, tendo sido presidenta por dois mandatos.
“Entrei para o Sindicato como secretária-geral, procurei atuar na questão do cumprimento da jornada de trabalho e dos direitos das convenções coletivas, pois o Ceará chegou a ter as convenções coletivas mais modernas para a categoria, com direito ao auxilio creche integral, ou seja, os jornalistas pagavam a creche e a empresa era obrigada a ressarcir, assim como direitos bem modernos, como diária de viagem a 10%, hora extra 80% e 100%, haviam uma série de direitos avançados os quais me debrucei nas convenções fazendo pressão nas empresas pela garantia deles”, revela Samira.
Sua experiência na FENAJ começou em 2013, quando adentrou na Federação como 2ª tesoureira. Participou de congressos nacionais como delegada e, uma vez dentro da Federação, passou a participar da elaboração das teses e das discussões políticas sobre a categoria dos jornalistas no Brasil. Samira acredita na luta coletiva e essa é a segunda eleição nacional da qual participa em que há chapa única, ou seja, “há um enorme esforço de unidade de todos os sindicatos brasileiros, para que a categoria enfrente esse momento de extrema precarização unida, para que não haja divisão de grupos na questão da defesa dos interesses das e dos jornalistas”, reafirma.
Unidade na luta, uma chapa diversa
A chapa única que concorre às eleições da FENAJ possui 32 candidatos distribuídos nos estados do Brasil, que enxergam de uma forma realista a urgência de defesa da atualização da regulamentação profissional, da volta da exigência do diploma de nível específico superior em Jornalismo, assim como, defesa da democracia e do estado democrático de direito no país.
“Temos bandeiras de lutas históricas que precisam ser reafirmadas com veemência perante os jornalistas brasileiros e os poderes constituídos nesse momento”, conta Samira.
Em linhas gerais, as propostas da chapa são: defesa do jornalismo compreendendo a regulamentação profissional, financiamento público para o jornalismo, fomento aos novos arranjos jornalísticos, defesa da jornada especial de 5 horas diárias, combate às fraudes jornalísticas (PJ’s, falsos MEIS e sócios cotistas), revogação das contrarreformas trabalhista e previdenciária e a adoção de um protocolo de segurança para o exercício legal e seguro do jornalismo no Brasil. A chapa se propõe a defender também a federalização da investigação de crimes cometidos contra jornalistas, criação do Observatório Nacional da Violência contra a categoria, campanha salarial nacional, defesa do piso nacional e o enfrentamento à exploração dos estagiários de Jornalismo.
A chapa é composta por 30% de mulheres como está no estatuto da FENAJ, 20% negros e negras, sendo 32 membros distribuídos entre diretoria executiva, vices regionais e secretarias, além dos cinco integrantes da comissão nacional de ética. Confira as propostas, cargos e todos os Jornalistas candidatos a assumir a FENAJ através da conta no instagram @fenajunidadenaluta.
“Luto por um futuro sem violência e assédio”
Questionada sobre os ataques e assédios já sofridos no mercado de trabalho Samira conta que enfrentou “machismo, sexismo e misoginia por ocupar um lugar profissional que historicamente é reservado aos homens, como é o caso da editoria de Economia”. “Superiores hierárquicos, colegas de trabalho e fontes me questionavam por ser mulher e jovem”, lembra. “Mas sempre rebati a altura quando era questionada sobre minha capacidade como mulher. E também questionei e enfrentei piadas e brincadeiras machistas sobre minha juventude e meu corpo”.
As estruturas do sistema opressor foram expressivas para engrossar a força de luta de Samira, assim ela revela que também sofreu machismo vindo de colegas mulheres e que a sua escolha pela maternidade chegou ser colocada como empecilho ao crescimento na carreira.
Sendo mulher, mãe de três homens e filha, Samira acredita que o sindicalismo é um potente motor para a transformação da sociedade. Afinal, quando se integra as lutas de gênero, raça e classe, ele adquire condições de contribuição para transformar a sociedade. “Eu luto hoje para que meus filhos vivam numa sociedade inclusiva, melhor que a que eu encontrei e que meus pais encontraram. É isso que me move a continuar acreditando no movimento sindical, na esquerda brasileira, na democracia e nos valores humanos. Precisamos caminhar para a emancipação humana, para um mundo sem divisão de classe, cor, gênero ou orientação sexual, precisamos caminhar para essa sociedade igualitária, uma luta perene. Afinal, o mundo vai estar sempre atravessado por poderes, pessoas e situações que querem comandar, temos que lutar para não ser comandados e para que essas opressões não vençam”.
Por fim, Samira encerra aspirando por um mundo melhor e acreditando na potência da (des)organização: “gosto muito de citar uma frase do Chico Science; “eu me organizando posso desorganizar”, se nos organizarmos enquanto categoria de trabalhadores assalariados, podemos desorganizar o sistema opressor. É nisso que acredito: trabalho coletivo, auto-organização e defesa dos interesses de classe! Somos classe trabalhadora assalariada, não podemos jamais nos aliar aos patrões e defender uma conciliação de classes, nós temos lado e nosso lado é ao lado da classe trabalhadora e contra e qualquer forma de opressão”, finaliza.
(*) estagiária, sob supervisão de Alessandra Mello