Reafirmação do Jornalismo, educação informacional e democratização da Comunicação são essenciais à democracia brasileira

O poder emana do povo. Para exercê-lo, a sociedade precisa compreender e se apropriar de seus direitos e deveres enquanto sujeitos com garantias legais. O Jornalismo, considerado um pilar da democracia, exerce papel fundamental nesse processo. Os profissionais da Comunicação devem levar, de forma equânime, as informações necessárias para o exercício pleno da cidadania. Dessa forma, as mídias impressas, eletrônicas e sociais precisam dialogar com os mais diversos públicos. Só assim poderemos superar as crises informacional e democrática que se instalaram no Brasil. Esses assuntos foram discutidos no quinto e último painel do 38º Congresso Nacional dos Jornalistas, realizado no sábado (dia 24 de agosto), no Hotel Sonata de Iracema.

A facilitação do debate esteve sob a responsabilidade do intelectual Luís Felipe Miguel, professor doutor da Universidade de Brasília (UnB), e do jornalista Rogério Christofoletti, professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e autor do livro “A crise do jornalismo tem solução?”. Ambos expuseram suas perspectivas sobre a conjuntura atual utilizando argumentos assertivos. A mesa foi mediada pela jornalista Samira de Castro, atual diretora de Comunicação, Cultura e Eventos do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) e diretora da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ).

Luís Felipe iniciou sua fala criticando a postura entreguista do Executivo federal vigente, aliado ao oligopólio midiático, que possui interesses próprios. Realizou um resgate histórico enfatizando o papel do Jornalismo em momentos difíceis do País, como o atual. Miguel refrescou a memória dos congressistas experientes em relação à “imparcialidade ostensiva”, marca da Rede Globo que se deu, principalmente, durante as coberturas de períodos eleitorais na Era Lula. Sua principal característica era a distribuição rigorosa e igualitária de tempo aos candidatos participantes de debates nacionais. A emissora, segundo Miguel, construiu essa imagem de forma estratégica.

Além disso, comentou sobre o “enquadramento da democracia”, realizado pelas empresas de comunicação com o objetivo de manter a lógica “fernandista” nos anos 1990. Miguel também citou o embate em curso entre informações grátis e pagas, provocando a plateia a refletir sobre como sobreviver ao jogo do atual mercado. O intelectual deu uma pista: “estão utilizando o viés político como alternativa”. Considerando o espaço civil polarizado, tratar de política é inteligente, visto que todos os holofotes estão sobre o Planalto.

Autor do livro “Dominação e resistência”, Miguel discutiu sobre o contexto das fake news, apontando que uma retomada da credibilidade do modelo tradicional, protagonizado pela mídia golpista e tendenciosa, não seria uma solução efetiva. O ideal é focar em veículos alternativos, pois a chamada grande mídia continua com as mesmas práticas. O Jornalismo corporativo, segundo o professor, construiu um espaço propício para a disseminação de informações falsas, logo, o oligopólio é um dos principais responsáveis pela incerteza instalada. Concluindo sua fala, defendeu com firmeza a democratização da Comunicação, afirmando-a como necessária e urgente, assim como investimentos em alfabetização informacional. “As pessoas têm que ser ensinadas a processar de maneira crítica as informações que recebem”.

Rogério Christofoletti, por sua vez, relatou sobre a “postura servil, vassala e subordinada ao atual governo, por parte de veículos locais de Florianópolis”, em Santa Catarina. “Não só o Jornalismo está em crise, mas várias instituições”, lamentou. Por essa razão, segundo o escritor, reafirmar o papel fundamental dos jornalistas deve ser prioridade da categoria, combatendo diretamente a desinformação generalizada. E acrescentou: “a democracia depende mais do Jornalismo do que o contrário”.

Os retrocessos mundiais também foram alvo dos comentários de Christofoletti. “É preciso cultivar valores construídos durante o processo civilizatório”, frisou. Além disso, demonstrou simpatia à ideia radical do que se entende por retomada da democracia. “É necessário insistir na Lei e na Constituição!”, defendeu. Resgatou perspectivas investigativas da profissão, indicando que as autoridades precisam ser enquadradas. Regulamentar os meios de comunicação, instituindo veículos estatais e públicos, também entrou no escopo de argumentos do palestrante.

“Não podemos banalizar absurdos”, citou o jornalista ao criticar a autocensura como prática recorrente nas mais diversas redações, devido à pressão do empresariado. Segundo ele, o desenvolvimento de uma consciência de classe, além de uma agenda que confronte a do governo, são demandas com prazos extrapolados. Para finalizar, criticou: “o Jornalismo está muito reverente”. Dito isso, o membro do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS) buscou incitar as operárias e operários da notícia a pensar, coletivamente, sobre os difíceis entraves que vêm por aí.

Assista ao vídeo do último painel do 38º Congresso Nacional dos Jornalistas – “O Jornalismo e a retomada da democracia no Brasil”

Paniel: O jornalismo e a retomada da democracia no Brasil, com Luis Felipe Miguel, professor da UnB, e Rogério Christofoletti, professor da UFSC e integrante do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS). A medição é de Samira de Castro, eleita segunda vice presidenta da Fenaj.#38CongressoDeJornalistas #AfirmarOJornalismo #EOPapelDosJornalistas

Publicado por Sindjorce em Sábado, 24 de agosto de 2019

 

Redação: Alex Ferreira

Edição: Samira de Castro

Fotos: David Leitão Aguiar


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