O Sindicato dos Jornalistas do Estado do Ceará (Sindjorce) foi homenageado em sessão solene, na noite da última quarta-feira (20), em razão dos 65 anos de fundação da entidade. A solenidade aconteceu no Plenário 13 de Maio da Assembleia Legislativa e atendeu a requerimento das deputadas Augusta Brito (PCdoB) e Rachel Marques (PT). Estiveram presentes o presidente do PCdoB de Fortaleza, Francinet Cunha, e a representante da Frente Brasil Popular, Germana Amaral.
Na ocasião, foram homenageados o Sindjorce, a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socieconômicos (Dieese), a Central Única dos Trabalhadores no Ceará (CUT/CE), o fundador do Sindicato, Paulo Bonavides, o procurador regional do Trabalho, Gerson Marques, a jornalista Mariana de Oliveira Cunha e o advogado trabalhista Carlos Chagas.
A deputada Augusta Brito comentou sobre a retirada de direitos de sindicatos e a importância de debater sobre esse tema. A parlamentar também ressaltou a presença feminina na presidência do Sindjorce, parabenizando a atual presidente, Samira de Castro, além das duas outras jornalistas que já presidiram o sindicato, Ivonete Maia e Débora Lima.
“Gostaria de destacar aqui a gestão da Samira, sempre atuante e forte, e a criação recente das comissões de jornalistas jovens, LGBTs, mulheres e pela igualdade racial. Parabéns pela iniciativa. Precisamos mesmo de incentivo para uma profissão de jornalista plural baseada em direitos humanos”, enfatizou.
Já a presidente do Sindjorce, Samira de Castro, reafirmou o trabalho de resistência do sindicato aos ataques patronais e na defesa intransigente do emprego, das condições de trabalho, da regulamentação profissional e da qualidade de vida da categoria.
“Encaramos, sim, senhores, graves problemas, ainda, em várias redações: acúmulo e desvio de funções, jornadas irregulares, não pagamento de horas extras, exploração da mão de obra estagiária. Tudo isso somado ao aumento insuportável do assédio moral e da violência contra jornalistas de todos os segmentos”, enumerou.
Samira também destacou que é momento de fortalecer o Sindjorce, aumentando o número de sindicalizados, interiorizando as ações e articulando o diálogo com as universidades.
Para o diretor de Educação e Aperfeiçoamento Profissional da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Rafael Mesquita, o Sindjorce é um dos sindicatos mais atuantes, destacando a organização de grupos que não são vistos no jornalismo tradicional. “Não chega a 20% a participação de negros dentro do mercado de trabalho de jornalistas. Isso é claramente um obstáculo à representatividade desse grupo que é 52% da população”, exemplificou.
Rafael Mesquita criticou ainda o atual modelo de negócios das empresas de comunicação tradicionais, que investem em “mármore, vidro e novas estruturas” ao mesmo tempo em que “demitem 10 ou 20 jornalistas em uma única oportunidade”.
Confira a fala da presidente
Senhoras e senhores, boa noite!
Ao comemorarmos os 65 anos da entidade representativa máxima dos jornalistas no Ceará, em nome da direção do Sindjorce, reafirmo o incansável trabalho de resistência aos ataques patronais e na defesa intransigente do emprego, das condições de trabalho, da regulamentação profissional e da qualidade de vida da categoria. Essa é uma luta que avança tanto na dinâmica da ação sindical conjunta com a base, para fortalecer a organização dos trabalhadores, como na esfera judicial, que repara as arbitrariedades orquestradas pelo patronato. Temos, portanto, motivos para seguir o caminhado trilhado pelo nosso fundador, Paulo Bonavides, um dos homenageados nesta solenidade.
À medida dos sucessivos passaralhos nas redações da chamada mídia tradicional, cresce também a atuação do Sindicato dos Jornalistas do Ceará e a organização nos locais de trabalho. Atos, protestos, manifestações e paralisações programadas tomaram conta das redações de impresso em duas campanhas salariais seguidas, diante do endurecimento do patronato e da falta de diálogo para fechamento das convenções coletivas com reajuste decente e ganho real. Foram momentos decisivos para aumentar a consciência de classe e reforçar o papel do Sindjorce como representante legítimo dos jornalistas cearenses no combate aos ataques contra a categoria.
Nas redações de mídia eletrônica, a histórica mobilização dos jornalistas do Sistema Jangadeiro, manifestando sua insatisfação com um dia de luto, marcou a retomada da organização participativa dos profissionais de rádio e televisão. Nesse contexto, cresceu o sentimento da categoria de pertencimento a uma entidade sindical que realmente luta por direitos e não existe apenas no papel, como acontece em entidade do setor de radiodifusão.
É certo que enfrentamos inúmeros obstáculos ao pleno exercício profissional e à efetivação das garantias legais – frutos da luta dos que vieram antes de nós. Hoje, a chamada convergência midiática, cujo mais recente exemplo é o processo em curso de integração das redações do Sistema Verdes Mares, tem imposto aos jornalistas um enorme sofrimento psíquico. É dormir empregado e acordar demitido sem justa causa, fazendo parte da triste estatística que assola o Brasil pós-golpe de 2016.
Encaramos graves problemas, ainda, em várias redações: acúmulos e desvio de funções, jornadas irregulares, não pagamento de horas extras, exploração da mão de obra estagiária. Tudo isto, somado ao aumento insuportável do assédio moral e da violência contra os jornalistas de todos os segmentos – jornais, revistas, rádios, TVs e assessorias de imprensa. Vale destacar que a nefasta reforma trabalhista, em vigor deste novembro passado, é o pretexto hoje usado pelos donos da mídia para tentar precarizar ainda mais a atividade laboral dos “operários e operárias da notícia” e sufocar financeiramente a voz altiva de quem os representa: o Sindjorce.
Agora mesmo, o sindicato patronal de rádio e televisão quer nos retirar o direito ao auxílio creche integral, as horas extras trabalhadas em feriados e o descanso remunerado aos domingos. Além disso, quer escamotear o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, retirando-o da Convenção Coletiva. A quem interessa uma mídia que não reconhece o código deontológico dos seus profissionais? Certamente, não é ao interesse público, razão maior de existir do Jornalismo.
Por defender o Jornalismo praticado com bases éticas, é que nasceu este sindicato há 65 anos. Da necessidade de organização da luta coletiva, o Sindjorce se tornou o que é. Não constituímos uma associação de confrades e confreiras, mas sim uma entidade que tem em seus filiados o seu maior patrimônio.
O momento, portanto, é de unidade e mobilização para enfrentar as adversidades atuais e futuras. Unidade não apenas no discurso, mas na prática, na atuação consciente e comprometida. A prática é, cada vez mais, o critério da verdade. É o momento de fortalecer o Sindjorce com a ampliação do número de sindicalizados e a busca da autossustentação financeira. É interiorizar as ações – o que já estamos fazendo desde o nosso Congresso Estadual Extraordinário – e fortalecer o diálogo com as universidades. É investir em capacitação e qualificação profissional, apostando a prática jornalística para a afirmação dos direitos humanos, em especial de mulheres, negras, negros, indígenas, LGBTIS.
E, se do veneno nasce o antídoto, sejamos nós, jornalistas unidos em torno da nossa entidade de classe que façamos do Jornalismo uma atividade que ilumina, que norteia e sustenta a democracia plena. Sejamos nós, também, os pioneiros a constituir uma ou várias cooperativas de trabalho, fundando em nossa atuação a ideia de cooperação mútua para o pleno exercício da liberdade de expressão e de imprensa. O desafio está lançado. Somente um Sindicato representativo e reconhecido pela categoria garante o fôlego necessário para o sucesso da luta coletiva.
Viva o Sindjorce, viva os Jornalistas do Ceará, viva o jornalismo cearenses muito obrigada e boa noite.
Fotos: José Leomar
Com informações da Agência de Notícias da Assembleia Legislativa