Brasil: Cobertura da violência armada no centro do debate

Em roda de conversa, profissionais discutiram a cobertura de temas de violência no Ceará. Foto: G. Borelli/CICV

Fortaleza – Trinta profissionais da imprensa do Ceará participaram da Oficina sobre Cobertura de Violência Urbana, organizada pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) em parceria com o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Ceará (Sindjorce) e com apoio institucional da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), no dia 29 de junho. Esta foi a primeira iniciativa desse tipo organizada na Capital cearense com o objetivo de discutir a cobertura local da violência armada, além de apresentar o trabalho do CICV no Brasil e no Estado.

Em uma roda de conversa sobre a cobertura dos temas de violência no Ceará, os debatedores discutiram a responsabilidade social do jornalista, o dever de apuração dos fatos, os desafios impostos pela pressão de noticiar de imediato em tempos de redes sociais, o código de ética do jornalista e a falta de humanidade e empatia na cobertura da violência.

Um dos temas de maior debate foi o desafio da apuração em tempos de disseminação muito rápida de informações por redes sociais. “A cobertura hoje é bem diferente (do que era antes). Hoje em dia as notícias chegam bastante pelas redes sociais, pelo WhatsApp principalmente”, contou o editor de segurança do Sistema Verdes Mares, Emerson Rodrigues. “Antes havia um filtro de que quando você recebia uma informação e você ia checar. Hoje, com os programas ao vivo, há um telão com as mensagens que chegam”, acrescentou.

Além de Emerson Rodrigues (Sistema Verdes Mares), Kélia Jácome (Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Ceará), Moacir Maia (Prefeitura de Fortaleza), Ricardo Moura (Laboratório de Estudos da Violência da Universidade Federal do Ceará e colunista de segurança de O Povo) e Samira de Castro (Sindjorce) participaram da roda de conversa, mediada por Sandra Lefcovich (CICV).

Do ponto de vista das assessorias de imprensa envolvidas na cobertura de violência, Kélia Jácome e Moacir Maia falaram sobre a pressão das redações por apuração cada vez mais rápida, em um cenário onde proliferam programas jornalísticos policialescos e as pautas sobre violência, muitas vezes antes restritas a esses programas, estão também “invadindo” noticiários matutinos. A produção acelerada e a “ânsia” pela publicação em primeira mão e em tempo real, muitas vezes comprometem princípios éticos jornalísticos. “A base do nosso trabalho é a responsabilidade. O tempo dos meios de comunicação não é o nosso tempo – às vezes vai ser, às vezes não é. O nosso tempo é o da responsabilidade”, afirmou Kélia. Ricardo Moura também lembrou da necessidade de especialistas como ele terem a possibilidade de analisar os fatos, contextualizar, o que a urgência tem impedido.

Trinta jornalistas do estado do Ceará participaram da Oficina sobre Cobertura de Violência Urbana em Fortaleza. Foto: G. Borelli/CICV

A oficina contou a participação ativa de jornalistas atuantes nos mais diversos meios de comunicação e em assessorias de imprensa do Ceará. Na avaliação de Sandra Lefcovich, a atividade foi muito positiva. “É importante fomentar a discussão e a reflexão sobre a cobertura da violência, com mais humanidade e respeito da dignidade das vítimas e do público”, afirmou. “Oferecer ferramentas e melhores condições aos comunicadores também é essencial para o exercício da profissão”, complementou. Parceira na iniciativa, a presidente do Sindjorce, Samira Castro, observou a necessidade de fazer jornalismo com interesse público, sem espetacularizar a violência nem fazer do sofrimento uma mercadoria.

“Quando um serviço público é interrompido por causa da violência, isso tem impacto na vida das pessoas”, afirma a chefe do escritório do CICV em Fortaleza, Valentina Torricelli. Foto: G. Borelli/CICV

A Oficina foi uma oportunidade para o CICV apresentar seu trabalho e expor conceitos importantes para a cobertura da violência. “Trabalhamos no Brasil para mitigar os efeitos da violência urbana, em parceria com as autoridades, através da metodologia Acesso Mais Seguro”, disse a chefe da Delegação Regional do CICV, Simone Casabianca-Aeschlimann, sobre uma das prioridades da organização no país. “Quando um serviço público é interrompido por causa da violência, tem impacto na vida das pessoas”, acrescentou a chefe do escritório do CICV em Fortaleza, Valentina Torricelli. Já o responsável técnico do Programa com Forças Policiais e de Segurança da Delegação Regional, Paulo Roberto Oliveira, apresentou conceitos como o uso de força, diferenças entre direito internacional dos direitos humanos (DIDH) e direito internacional humanitário (DIH).

O CICV é uma organização humanitária internacional que leva proteção e assistência a vítimas de conflitos armados e violência armada em mais de 90 países. Com sede em Brasília, a Delegação Regional do CICV conta com uma missão em Buenos Aires e escritórios em Boa Vista, Fortaleza, Rio de Janeiro e São Paulo.

Fonte: CICV

Fotos: G. Borelli/ CICV

DEIXE UMA RESPOSTA