Por Lúcia Estrela
Sindicalistas negras estiveram reunidas num bate papo nesta quarta-feira, 9/11, na sede do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce) para debater os efeitos da PEC 55 (antiga 241) para a população negra e os desafios da luta antirracista nos Sindicatos. Essa atividade fez parte da Campanha “Racismo Aqui Não”, do Coletivo de Juventude Negra – Enegrecer. O debate foi transmitido ao vivo via Facebook.
Participaram as dirigentes sindicais Ninivia Maciel, da Fetamce; Vilani Oliveira, da Confetam; Lilian Araújo e Ozaneide de Paulo da CUT Ceará, tendo como mediadora Geyse Anne da Silva, militante do Enegrecer.
Para Ozaneide de Paulo, “é importante resgatar o que de fato está em jogo nesse momento, no Brasil, que não só uma PEC que tira direitos, temos que resgatar todas as perdas de direitos, que nós trabalhadores levamos anos para conquistar. Os direitos sociais garantidos na Constituição como moradia, educação, saúde etc. é que estão em jogo. Com a PEC 241, ou melhor 55, nega esses direitos a sociedade, que tem cor, tem raça, tem classe social, tem sexo. Não é homogênea, tem diversidade , e esse segmentos que está ameaçada com perda de direitos”.
“Os ataques da PEC 241, ou 55, atingem os direitos sindicais, trabalhistas e sociais, numa estratégia bem montada, que não envolve somente as elites. A nossa reação deve vir com uma nova dimensão, temos que ter resistência com muita força. A nossa juventude está protagonizando as ocupações e nós devemos criar uma frente para além dos partidos políticos e das nossas organizações, de tal forma que possamos crescer e nos contrapor a essa onda de ataques aos nossos direitos”, defende Vilani Oliveira.
A questão das entidades estarem preparadas para enfrentar essa conjuntura, Ninivia Maciel lembra que “as entidades precisam pensar e articular qual vai ser nosso discurso, porque a velocidade da retirada de direitos, não deu tempo para nos qualificarmos e preparar nossa base. Esse é o momento de tomarmos consciência disso; a sociedade e os movimentos organizados, que se sensibilizem, pois a PEC é o tiro de tiro de misericórdia na classe trabalhadora, mas nós já estamos sofrendo há algum tempo esse |Projeto do temer, que acabou por discutir as privatizações, terceirizações, indexação salarial que foi retirada, para termos ganho real, é cruel. Esse impacto é muito violento na condição e no poder de compra da classe trabalhadora. Esse sistema que está vindo aí vai atingir a todos, indistintamente. Temos que estar preparados”.
A experiência de ser discriminada, pela cor principalmente, foi lembrada pela sindicalista Lilian Araújo. Segundo ela, pela sua cor, achavam que não tinha capacidade para assumir cargos de relevância na empresa que trabalhava. “Por mais que o movimento sindical apoie a causa do racismo, infelizmente ainda não é suficiente para banir essa situação, principalmente no interior do Estado. A cultura do racismo está arraigada, as pessoas negras sendo tratadas de forma pejorativa, com expressões racistas. Quando fazemos manifestações, fazemos reflexão sobre o racismo, sobre as mulheres, mas o preconceito existe, é muito doloroso, e pior que temos companheiros no próprio movimento que nos discriminam”.
“Convoco as mulheres e todos os trabalhadores negros para no dia 11 mostrar nossa força na rua. Sabemos que esse sistema vai afetar a todos, mas principalmente nós trabalhadores negros seremos os mais afetados. Então diante disso, convidamos todos a se fazer presentes nas manifestações, tanto em Fortaleza, como em todas as regiões do estado, ocupando as ruas. Não aceitamos nenhum direito a menos” completou Lilian.