Desertos de notícias: Fortaleza é a capital com menor número de jornais por habitantes

Com população de 2,42 milhões de pessoas, Fortaleza registrou apenas 0,87 veículo noticioso (jornal e site) por 100 mil habitantes, ficando com a pior situação pesquisada entre as 27 capitais do país. A informação consta do estudo o “Atlas da Notícia“, levantamento inédito, com base em jornalismo de dados, que identificou, entre outros pontos, que 70 milhões de brasileiros vivem em desertos de notícias.

O Atlas da Notícia, que mapeia a presença ou ausência da imprensa em todo o território nacional, é uma iniciativa do Projor – Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo, em parceria com o Volt Data Lab. Foram identificados, nessa primeira etapa do projeto, 5.354 veículos — entre jornais impressos e sites —, em 1.125 cidades de 27 unidades federativas. Um universo que compreende aproximadamente 130 milhões de pessoas, mais de 60% da população brasileira.

Ainda segundo o levantamento, 4.500 municípios, representando 70 milhões de habitantes, não têm registros de meios noticiosos impressos ou digitais. Esta legião de brasileiros — quase 35% da população nacional — não dispõe de notícias sobre sua própria comunidade, onde não se cobre, entre outras coisas, nem a Prefeitura ou a Câmara Municipal. Não há, nesses territórios, a produção jornalística, o que compromete a capacidade decisória dos cidadãos.

“O Atlas da Notícia é, antes de mais nada, uma ferramenta para conseguirmos enxergar quais as localidades mais carentes de jornalismo no Brasil”, explica Sérgio Spagnuolo, editor do Volt Data Lab, agência de jornalismo de dados que conduziu o levantamento e a pesquisa. “Dessa forma, ao criar conhecimento sobre esses desertos informativos, o Atlas servirá como ponto de partida para entendermos melhor a configuração do jornalismo no país.”

Metodologia

Nesta primeira etapa, os organizadores consideraram apenas os jornais e sites de notícia e buscou-se, além de números absolutos, um recorte proporcional considerando a presença de veículos a cada 100 mil habitantes. O Volt Data Lab observa que não se trata, nesse caso, propriamente de alcance populacional mas da diversidade de veículos nos territórios pesquisados. Outras questões como circulação, abrangência geográfica efetiva e taxa de consumo deverão ser contempladas em outras etapas do projeto.

Quando consideramos a população das capitais, Fortaleza foi a pior: com grande população (2,42 milhões) a metrópole registrou apenas 0,87 veículo por 100 mil habitantes. Salvador (2,65 milhões) ficou logo atrás, com 1,1 veículo.

Para a presidente do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce), Samira de Castro, o Atlas da Notícia mostra que a grande imprensa brasileira é concentrada no eixo São Paulo – Rio de Janeiro – Brasília, e acaba informando toda a população do país sobre o que acontece nestes lugares. “Mas como as pessoas que vivem em cidades pequenas e médias  se informam sobre o que acontece na sua região? O levantamento reforça a necessidade de democratização da comunicação, com mais investimentos em veículos impressos e online independentes e fora dos grandes centros”, comenta.

Os dados dos veículos impressos e online também foram cruzados com o IDHM – Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, considerando três indicadores socioeconômicos: população, escolaridade e renda. Mas, por dificuldades cadastrais, 47 cidades ficaram de fora dessa relação com o IDHM. As relações de 100 mil habitantes por veículo foram apuradas apenas em cidades com mais de 100 mil habitantes para evitar distorções metodológicas.

Saiba Mais:

70 milhões de brasileiros vivem em deserto de notícias

Com informações do Observatório da Imprensa

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