“É preciso romper a cerca da desinformação e ocupar o latifúndio do ar”. A frase é do jornalista e dirigente nacional do Movimento dos/as Trabalhadores/as Rurais Sem Terra (MST), Pedro Neto, e resume o tom do ato político pela democratização da comunicação realizado em Fortaleza, no dia 18 de outubro, marcando a Semana Nacional pela Democratização da Comunicação 2017. “Precisamos articular um projeto político da classe trabalhadora no campo da comunicação”, destacou o jornalista da terra.
O auditório da sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), que estava ocupado por 700 integrantes do MST Ceará, ficou pequeno para o público, majoritariamente composto por agricultores e agricultoras familiares, que ficaram atentos até o final de todas as falas da atividade, idealizada pelo comitê cearense do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) em conjunto com a direção local do MST. A atividade foi transmitida ao vivo pela fanpage do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce).
A presidente do Sindjorce e segunda tesoureira da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Samira de Castro, enumerou os absurdos que acontecem hoje no sistema de comunicação brasileiro, como a propriedade cruzada de meios de comunicação e a concessão de emissoras em nomes de políticos e seus familiares. “São famílias que detém terras e outros meios de produção, além de mandatos e da fala, produzindo discursos únicos que invisibilizam as lutas da classe trabalhadora”, pontuou.
Colaboradora do Jornal Brasil de Fato e do Movimento Consulta Popular, a jornalista Camila Garcia frisou a importância da luta dos movimentos sociais na disputa hegemônica no campo da comunicação. “É necessário resistir e registrar a história das nossas lutas porque a história (oficial) não vai contar o nosso lado”. Ela relatou a experiência do jornal Brasil de Fato, que existe desde 2011 e faz um trabalho de contra narrativa, numa linguagem mais próxima da classe trabalhadora.
O jornalista sindical e coordenador do FNDC no Ceará, Rafael Mesquita, destacou a necessidade de regulamentação do Capítulo V da Constituição Federal como um marco necessário à democracia na mídia. “A gente vive uma completa anarquia legal no setor. O Código Brasileiro de Telecomunicações data dos anos 1970 e as leis complementares que regulamentariam a Constituição nunca foram apresentadas”, disse.
Para o público, restou claro que uma outra comunicação – democrática e plural – é possível e só acontecerá com a unidade das forças progressistas. “Essa outra comunicação tem que expressar nosso projeto político”, frisou Pedro Neto. “É preciso dialogar com a sociedade e fazer um debate mais amplo porque esse luta é nossa”, finalizou.