“Está na hora de taxar as grandes plataformas e financiar o jornalismo”, defende pesquisador

Existe saída para a crise financeira que afeta o jornalismo? Na avaliação de Rogério Christofoletti, professor do Departamento de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), as respostas para a pergunta do milhão não serão únicas, universais e nem individuais. “Nós precisamos buscar formas coletivas de enfrentamento. Não virão soluções mágicas”, vaticina o pesquisador do Observatório da Ética Jornalística (objETHOS) e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Jornalismo.

Além de pontuar a necessidade de um resgate do pacto do jornalismo com seus públicos – porque a crise do setor também é de credibilidade – Christofoletti destacou a proposta da Federação Internacional dos Jornalistas (FIJ), ainda em debate na Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), de taxação das plataformas da internet conhecidas como GAFAM – Google, Apple, Facebook, Amazon, Microsoft -, que abocanham dois terços da publicidade mundial. “Eu acho que está na hora de a gente taxar sim as grandes plataformas”, disse.

O pesquisador do objETHOS lembrou que parte da ruína financeira do jornalismo é decorrente da migração das verbas dos veículos tradicionais de mídia para as plataformas. São recursos que antes abasteciam o jornalismo e as indústrias criativas de entretenimento, diversão, cinema, entre outras. “Eles precisam ser taxados porque se apropriam do serviço, do trabalho e da energia, do tempo das pessoas. As indústrias locais estão sendo vampirizadas por monopólios, oligopólios digitais transnacionais que têm muitas vezes ativos superiores a PIBs de países”, argumentou o professor.

Na avaliação de Christofoletti, é importante a estratégia que a FIJ está levando em consideração, e que a FENAJ está envolvida, de criação de uma Plataforma Mundial para o Jornalismo de Qualidade, a partir de fundos alimentados com recursos da cobrança de impostos do GAFAM. “A gente precisa, sim, discutir a criação de fundos locais”, reforçou. E a boa justificativa para ir atrás do dinheiro, segundo ele, é que “nós precisamos combater uma epidemia de desinformação”.

“É legítimo o serviço que o jornalismo faz: ele é de interesse social, de finalidade pública, de interesse público”

Christofoletti foi o entrevistado na estreia do “Conexão Sindjorce”, programa de entrevistas ao vivo que marca os 67 anos do Sindicato dos Jornalistas do Ceará. Com o tema “O agravamento da crise do jornalismo provocada pela pandemia de Covid-19”, o pesquisador dialogou, no último dia 27 de maio, por pouco mais de uma hora em “live” transmitida, ironicamente, pela fanpage da entidade sindical no Facebook e pelo perfil no Instagram.

O pesquisador e autor do livro “A crise do jornalismo tem solução?” lembrou que existem outros fundos no Governo Federal, como o Fundo de Serviços de Telecomunicações (FUST) e o Fundo do Audiovisual, que já ajudam parte dessa indústria de internet e criativa, respectivamente. Para ele, as verbas que não são do presidente da República – e sim públicas – precisam ser discutidas e aplicadas de maneira republicana, seguindo critérios definidos.

“Aqui no Brasil, a gente já teve programa de socorro a bancos. Por que a gente não pode ter um programa de socorro ao jornalismo, para combater outra epidemia, que é a da desinformação?”

Um dos mediadores do debate online, o presidente do Sindjorce e diretor de Mobilização da FENAJ, Rafael Mesquita, lembrou que a pandemia do novo Coronavírus desencadeou não só uma crise sanitária – e até humanitária – em escala global, mas também atingiu em cheio a já combalida indústria do Jornalismo. Muitas empresas de imprensa fecharam suas portas, milhões de empregos foram perdidos e os jornalistas estão sofrendo o impacto da crise. No Ceará, 179 profissionais foram afetados pelas Medidas Provisórias do governo que possibilitaram redução de jornada/salário e suspensão temporária de contrato de trabalho.

A grande contradição do cenário atual é que, embora essenciais e fazendo um trabalho, na maioria das vezes, reconhecido pela sociedade, os operários da notícia estão depauperados e precarizados, lembrou a segunda vice-presidenta da FENAJ e diretora de Comunicação do Sindjorce, Samira de Castro. Ela também questionou como a crise de credibilidade se agravou ao ponto de as pessoas acreditarem em mentiras e colocarem em xeque o trabalho dos jornalistas.

Assista ao Conexão Sindjorce com Rogério Christofoletti

 


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