Jornais acenam com possibilidade de 3,64% de reajuste se categoria abrir mão de direitos

Na última quarta-feira (05/06) foi realizada a 13ª rodada de negociação da Campanha Salarial 2018/2019 dos Jornalistas Empregados em Jornais e Revistas do Ceará. Após pelo menos quatro encontros de completo impasse e de cobranças reiteradas do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce), os representantes das empresas finalmente voltaram a discutir o conteúdo das propostas para a Convenção Coletiva de Trabalho do setor.

Porém, as novas medidas apresentadas estão longe de contemplar as demandas laborais, inclusive, muitas delas já haviam sido rejeitadas pelos jornalistas em assembleias por local de trabalho.

Foram oito cláusulas novamente colocadas em discussão pelo Sindicato das Empresas de Jornais e Revistas do Ceará (Sindjornais). Na maioria delas, a bancada patronal pede mudanças significativas nos direitos anteriormente estabelecidos.

Fim ou redução de direitos

Seguem pedindo o fim das diárias de viagem de 10% em (quando o retorno se dá no dia seguinte à saída) e sugerindo a transformação do benefício em apenas um dispositivo de ressarcimento de despesas de viagens.

Voltam a sugerir o fim do ressarcimento integral de despesas com educação infantil até seis anos prevista no auxílio-creche. A diferença das negociações anteriores, onde chegaram a apresentar o teto de cerca de R$ 200, é que agora “elevam” o valor para R$ 400. Atualmente, no Sistema Verdes Mares, é oferecido até R$ 382 aos seus profissionais como auxílio-creche. No Grupo O Povo, os dependentes legais dos funcionários – jornalistas ou não – têm bolsa integral até terminarem os estudos.

Os patrões seguem propondo acabar com o cálculo especial de hora-extra em 80% da hora normal, na primeira hora-extra trabalhada, e de 100%, a partir da segunda hora laborada. A proposta é derrubar os percentuais aos previstos atualmente na CLT, ou seja, aplicando apenas 50% do valor da hora no cálculo da hora adicional no curso da semana. Para domingos e feriados, a hora-extra seria calculada a 100%.

Para outros itens, a proposta é a redução dos benefícios. Propõem a diminuição do adicional por fotos e ilustrações negociadas de 40% para 25%; o rebaixamento do adicional por produção de matéria paga de 10% (repórter) e 5% (repórter fotográfico) para, respectivamente, 5% e 3%; e a redução da multa por descumprimento da Convenção Coletiva de 30% para 15%.

Já quanto ao adicional de 25% para profissional da área policial, o imperativo dos donos de jornais e revistas é o fim desse direito, com a justificativa de que não existira mais a área policial nos periódicos, embora a realidade mostre a permanência de profissionais dedicados a esta pauta ou lotados em editorias como a de “Segurança” do Diário do Nordeste.

A única mudança mais significativa nas propostas das empresas é o anúncio da manutenção da gratificação de chefia de 50%, que, diferentemente dos outros itens narrados, não teve pagamento interrompido. Assim, o recuo não teve e não terá custo nenhum para os donos. Nas mais de dez rodadas anteriores, haviam solicitado a redução da medida para 40%.

Após apresentar todos estes pontos, os representantes dos jornais e revistas justificaram que todas as propostas citadas neste encontro seriam condicionantes para uma eventual concessão do reajuste de acordo com o INPC de setembro de 2018, data-base da categoria, que está fixado em 3,64%.

A mensagem dos patrões foi exaustivamente repetida por pelo menos três dos quatros representantes patronais na mesa de negociação: se, e somente se, os trabalhadores aceitarem todos os termos propostos pelo setor, as empresas avaliariam a possibilidade (isso mesmo!) de aplicar o reajuste salarial de 3,64%.

Chantagem

Representante dos trabalhadores na discussão, o secretário-geral do Sindjorce, Rafael Mesquita, resume a ação dos patrões em uma palavra: “chantagem”. “Não bastasse esgarçarem as relações, esticarem as negociações, imporem condições e perseguirem trabalhadores que se manifestaram durante a campanha salarial, os grupos de comunicação operam agora com base em condicionamentos, que mais parece uma grande chantagem”, destaca o dirigente.

A presidente do Sindicato dos Jornalistas, Samira de Castro, entende que a barganha dos patrões é surreal. “Eles apresentam uma proposta de reajuste sem ganho real, ou seja, apenas repondo o poder de compra da categoria, condicionada ao desmonte dos nossos principais direitos. Isso é surreal. Um dia, irão entender que para fazer um acordo é necessário convencer a outra parte e eles estão muito longe disso. Não barganhamos direitos em nome de reajuste pífio. Não funciona na base da chantagem”, explica a presidente.

COMPARATIVO DOS DIREITOS DA CCT 2017/2018 COM AS PROPOSTAS PATRONAIS APRESENTADAS NA 13ª RODADA DE NEGOCIAÇÃO

CONVENÇÃO 2017/2018 PROPOSTA PATRONAL 2018/2019
Diária de viagem de 10% (quando retorno se dá no dia seguinte à saída) Fim da bonificação e transformação em cláusula apenas de ressarcimento de despesas de viagens
Auxílio creche – ressarcimento integral da despesa com educação infantil Limitar o ressarcimento da despesa com educação infantil a R$ 400
Adicional por por fotos e ilustrações negociadas de 40% Redução para 25%
Adicional matéria paga – 10% repórter e 5% repórter fotográfico Redução para 5% repórter e 3% repórter fotográfico
Adicional de 25% para profissional da área policial Fim do adicional com a justificativa de que não existira mais a área policial
Adicional de hora-extra em 80% a primeira hora e de 100% a partir da segunda hora. Reduzir para os percentuais da CLT, de 50% a primeira e segunda hora.
100% em domingos e feriados Manter 100% em domingos e feriados
Multa por descumprimento da convenção coletivo de 30% Redução da multa para 15% e instalação de comissão laboral/patronal prévia para mediar descumprimento
Gratificação de chefia de 50% Retirada da proposta de redução para 40%
Agora referendam os 50% de gratificação

 

1 COMENTÁRIO

  1. ué…falaram que a reforma trabalhista iria aumentar as ofertas de trabalho e os ganhos do trabalhador.
    E pior: depois que chegam a noite em casa os patrões (e seus prepostos) conseguem dormir e, na manhã seguinte, se olhar no espelho.

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