Nota em defesa do livre exercício profissional de jornalistas esportivos do Ceará

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce) e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) vêm a público repudiar a censura e o cerceamento ao livre exercício profissional de jornalistas esportivos por parte dos principais clubes de futebol do Estado. Esta semana, o Sindicato tomou conhecimento da prática de critérios para a cobertura dos times que impedem a ampla participação dos jornalistas da área, com trabalhadores retirados de grupos de WhatsApp e “orientados” a não se identificarem com os nomes dos seus blogs.

Ao mesmo tempo, o Sindjorce solidariza-se com o jornalista Mário Kempes, do Blog do Kempes, comunicado pela assessoria de imprensa do Ceará Sporting Clube de que não poderia mais se identificar nas entrevistas coletivas com o nome do seu blog de notícias e sim apenas por outro veículo no qual trabalha. O caso aconteceu no dia 29 de março. Questionando a censura, o jornalista recebeu como resposta que “seria uma recomendação”, pois o clube “proíbe o credenciamento de blogs, portais, canais e sites ligados a torcidas”. Acontece que o blog do Kempes produz informação jornalística de interesse público acerca do esporte.

Na cobertura esportiva do dia a dia, o acesso aos atletas é geralmente administrado pelas organizações esportivas, que realizam conferência de imprensa e eventos de mídia. Como resultado, jornalistas esportivos acabam ficando submetidos a essas organizações.

Compreendemos que os clubes podem – e devem – estabelecer suas regras para credenciamento de mídia. No entanto, apelamos que estas regras devem ser explícitas e valer para todos, sem distinção de porte do veículo ou mesmo relações pessoais de dirigentes das organizações com jornalistas e donos de empresas jornalísticas.

O Jornalismo Esportivo sempre foi tradição no Brasil e tem crescido à medida em que o país se destaca internacionalmente em diversos esportes. Basta citar a Copa do Mundo de Futebol, realizada no país, em 2014, que registrou o recorde de 16,7 mil credenciais para a imprensa. Hoje temos mais meios de comunicação e profissionais produzindo e transmitindo informação.

A cobertura eventos esportivos, como os campeonatos de futebol, não é mais monopólio das grandes corporações jornalísticas e pode ser feita de inúmeras formas pela internet. Além disso, a tecnologia permite aos jornalistas esportivos independentes terem melhor noção do que interessa ao público e como ele consome a informação transmitida.

Blogs e as novas mídias abriram espaço para que mais pessoas possam participar da criação de conteúdos relacionados ao esporte. O que separa a cobertura amadora da profissional são a técnica e a ética empregadas ao reportar, além da credibilidade. Neste sentido, o Sindjorce e a FENAJ reconhecem que é necessário que seja requisitado pelo menos o registro profissional de jornalista ou radialista.

Relembramos que, conforme o Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, “a produção e a divulgação da informação devem se pautar pela veracidade dos fatos e ter por finalidade o interesse público”, ao mesmo tempo em que “a liberdade de imprensa, direito e pressuposto do exercício do jornalismo, implica compromisso com a responsabilidade social inerente à profissão”.

Neste sentido, solicitamos a todas as organizações esportivas do Estado que revejam seus critérios de credenciamento de profissionais da mídia e acesso a treinos, jogos e coletivas de imprensa em nome da garantia do livre exercício profissional da categoria, que é assegurado na Constituição Federal.

Fortaleza, 31 de março de 2022

Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará – Sindjorce

Federação Nacional dos Jornalistas – FENAJ

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