Comunicador Paulo Oliveira disse em programa de rádio que casais homoafetivos não eram normais. Sindicato cobra providências contra discurso preconceituoso
O Sindicato dos Jornalistas do Estado do Ceará (Sindjorce) enviou, na última segunda-feira (08/03), ofício ao Sistema Verdes Mares (SVM) em que denuncia uma declaração de cunho LGBTfóbica do comunicador Paulo Oliveira, titular de programa na Rádio Verdes Mares -810 AM.
No último dia 4 de março, em transmissão ao vivo de seu programa, Paulo relatou que foi ao Hard Rock Café Fortaleza, no Shopping Riomar Fortaleza, com o neto de seis anos e presenciou um casal homoafetivo, que ele acredita não ser um casal, pois, em suas palavras “um casal não, que casal é macho e fêmea, eram dois homens”. Ainda no ar, o radialista contou que o par “começou a se beijar” e o neto perguntou se homens poderiam se beijar. O mesmo narrou que respondeu com a seguinte frase: “Eu disse pra ele que não! Que não era normal! Cara, essas coisas a gente tem que evitar, né?! Nunca mais eu fui lá”, finalizou em discurso proferido na emissora.
O Sindjorce compreende que o testemunho veiculado no programa de significativa audiência no Estado é um enorme desserviço para a população cearense, pois, diante de um país que agride a cada uma hora um LGBTQI+, como revelam os dados do Sistema Único de Saúde (SUS), e em um Estado que tem a marca de 14 pessoas trans mortas apenas em 2020, como afirma a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), as manifestações do comunicador só insultam a intolerância e a violência. Lembramos também que hoje a LGBTfobia é crime no Brasil, de acordo com decisão de 2019 do Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo o presidente do Sindjorce, Rafael Mesquita, as emissoras de rádio e televisão são concessões públicas e têm, portanto, “obrigação de respeitar os direitos humanos, a Constituição e os princípios de igualdade entre todos e todas. O que o radialista fez foi uma agressão frontal à dignidade humana”, pontua o dirigente sindical.
No ofício encaminhado ao conglomerado de mídia dono da Verdinha foi solicitado uma posição oficial sobre o caso, com exibição de direito de resposta no programa, pedido de desculpas público do radialista à toda a população LGBTQI+ e a produção de matérias que valorizem o respeito à diversidade sexual, que publicizem os dados sobre a homofobia no Estado e enfatizem a existência de uma lei que criminaliza a LGBTfobia no país.
O Sindicato acrescenta que notificou a Defensoria Pública Estadual sobre a situação e acionou o Movimento LGBTQI+. A entidade informa ainda que aguarda um retorno do Sistema Verdes Mares e da produção do programa da AM 810.