Primeira paralisação acontece na sexta-feira, Dia Nacional de Luta e Mobilização em Defesa da Previdência Pública
Reunidos em assembleias realizadas em frente ao jornal O Povo e na sede do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce), na tarde e noite desta quarta-feira (20 de março), jornalistas cearenses empregados em mídias impressas aprovaram por unanimidade a deflagração de estado de greve. A medida decorre da insatisfação da categoria com o tratamento dado pelos donos da mídia aos profissionais no decurso das negociações da Campanha Salarial de Jornais e Revistas 2018/2019.
Nove meses após enviar a pauta de reivindicações ao sindicato patronal do segmento, as negociações seguem sob impasse, pois as empresas querem excluir ou modificar cláusulas fundamentais da Convenção Coletiva de Trabalho. Pelo menos 20 cláusulas das antigas CCTs estão sendo alvo da investida empresarial, sobretudo as que implicam em direitos para a categoria, como pagamento de auxílios e adicionais por desempenho de funções.
Além da demora nas negociações, o patronato simplesmente cortou todos os direitos dos trabalhadores, como pagamento de horas extras, diária de viagem, adicional da área policial e auxílio-creche integral. Não bastasse a tentativa de destruição de uma das convenções coletivas mais modernas da categoria em todo o Brasil, os empresários propõem ultrajante índice de reajuste salarial de 1%, para uma inflação oficial de 3,64%.
Entre as deliberações das assembleias está a decisão dos trabalhadores de somente atenderem à solicitação de viagens a trabalho de mais de um dia se for garantido a integralidade da atual cláusula, a qual dispõe que o profissional receberá diária equivalente a 10% (dez por cento) de seu salário por dia de viagem quando o retorno ocorrer em dia diverso ao da saída.
A primeira mobilização do estado de greve acontecerá nessa sexta-feira, 22 de março, às 15 horas, em frente ao Jornal O Povo. Os trabalhadores irão paralisar as atividades durante uma hora. A data escolhida marca o Dia Nacional de Luta e Mobilização em Defesa da Previdência Pública, convocado pelas centrais sindicais para fortalecer a luta contra a reforma da Previdência (PEC 06/2019) proposta pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL). Em Fortaleza, um ato será realizado na Praça da Imprensa, no bairro Dionísio Torres, a partir das 8h.
As paralisações da Campanha Salarial serão maiores progressivamente. A primeira, com duração de uma hora, a segunda de uma hora e meia, a terceira de duas horas e assim por diante. “Tentamos o diálogo a todo custo, mas após nove rodadas de negociação, das quais pelo menos quatro sem qualquer recuo do patronal, vamos atrasar a produção e mostrar para a sociedade que a informação a qual ela tem acesso depende do trabalho dos jornalistas”, afirma a presidente do Sindjorce e segunda tesoureira da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Samira de Castro.
Abaixo-assinado reivindica manutenção de direitos
Os jornalistas do O Povo elaboraram, na semana passada, um abaixo-assinado onde estabelecem as cláusulas prioritárias e apelam para uma mediação com a direção da empresa. Dessa forma, defendem a continuidade dos seguintes dispositivos em sua integralidade: gratificação de chefia; matéria paga; gratificação da área policial; percentuais especiais de hora-extra; pagamento de reportagem especial; diária de viagem; adicional por fotos e ilustrações negociadas; auxílio creche; estabilidade na pré-aposentadoria; e defesa judicial.
“Tais cláusulas foram ao longo do tempo garantia de segurança jurídica para as empresas e para os empregados, nunca sendo colocadas como problema”, diz o texto do abaixo-assinado. O documento será encaminhado pelo Sindjorce ao sindicato patronal e aos donos das empresas jornalísticas do Estado.
O que é estado de greve?
O estado de greve se diferencia do indicativo de greve e da deflagração da greve em si. Ele é compreendido como uma situação aprovada pelos trabalhadores para alertar os patrões sobre a possibilidade de deflagração de uma greve. Assim, o estado de greve figura como momento de reflexão, debate e mobilização em torno de um processo que pode vir ou não a culminar em uma greve, aqui compreendida como instrumento legal e legítimo diante de reivindicações.
Como situação e, especialmente, como processo, o estado de greve pressupõe a continuidade das atividades laborais. A diferença é que, com os trabalhadores organizados sob esse estado, as ações de luta e mobilização passam a ser mais cotidianas e necessitarão ainda mais de participação.