A profusão de informações na era das mídias sociais faz com que, no Brasil, significativa parcela da população “se informe” via Facebook, Twitter, Google, entre outros. Mas o que é realmente conteúdo noticioso verdadeiro? O que essas plataformas nos permitem ver diante de uma avalanche de postagens, curtidas e compartilhamentos? Esses foram alguns dos principais questionamentos do Festival 3i – Jornalismo inovador, inspirador e independente, realizado no auditório do IAB, nos dias 11 e 12 de novembro, no Rio de Janeiro.
Na mesa “Plataformas, Jornalismo e Política”, realizada em plena manhã ensolarada de domingo – e a poucos metros do Aterro do Flamengo -, a plateia lotada dava mostras do alto nível dos debates do evento. A presidente do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce), Samira de Castro, e o secretário-geral, Rafael Mesquita, participaram do Festival, em busca de experiências inovadoras para socializar com os profissionais cearenses.
Google e Facebook
Integrantes da mesa, os jornalistas representantes do Google News Lab, Marco Túlio Pires, e do Facebook, Cláudia Gurfinkel, se limitaram a falar das ferramentas de suas respectivas plataformas em “benefício” do jornalismo e dos jornalistas. O debate foi instigado pelas colocações do sociólogo Sérgio Amadeu, com a ajuda de uma animada plateia, que saiu com mais dúvidas do que certezas. “No Brasil, 77% das pessoas usam redes sociais”, adiantou ex-integrante do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI-BR).
Marco Túlio Pires, do Google News Lab, citou iniciativas da empresa para combater conteúdo enganoso e valorizar o jornalismo: o Gloogle Adsense (que retira incentivo para pessoas não monetizarem em cima de informações falsas), o CrossCheck (plataforma de verificação colaborativa lançada nas eleições presidenciais da França em 2016 e que chegará ao Brasil no ano que vem) e o Impacto.jor (iniciativa para medir o impacto do jornalismo na vida das pessoas, através de um software criado para reportar e agregar impactos).
Cláudia Gurfinkel foi na mesma linha do colega e citou The Facebook Journalism Project (programa para estabelecer laços mais fortes entre o Facebook e o setor de notícias, por meio do desenvolvimento de novos produtos, treinamento e ferramentas para jornalistas e para o público), o CrowdTangle (ferramenta utilizada para rastrear a difusão de conteúdo na internet, realizando medidas de performance social e identificando influenciadores digitais) e o News Integrity Initiative (Escola de pós-graduação em jornalismo, com financiamento público, sediada em Nova Iorque).
Objetividade ontem e hoje
Sérgio Amadeu, por sua vez, comparou a manipulação da mídia tradicional com os algoritmos, que, segundo disse, mudam em função dos modelos de negócios e na monetização. “No mundo das redes, o grande problema é a modulação; somos conduzidos. Nosso comportamento é modulado para seguir e receber conteúdo daquilo com que a gente se identifica”, afirmou.
Com fluxo de conteúdo conduzido por amostras para um público calculado, as redes sociais acabam ocasionando as famosas “bolhas”. “Os algoritmos fazem com que encontremos mais rapidamente quem pensa como nós. Por outro lado, temos mais dificuldade de encontrar os outros”, pontuou o sociólogo, destacando que não se trata de personalização de conteúdo, mas de direcionamento.
Assim como a grande mídia vende a ideia de jornalismo objetivo, imparcial e neutro, nas redes sociais, há uma “falsa promessa da objetividade algorítmica”, o que Amadeu chama de neopositivismo. “Eu vejo problemas numa série de filtragens que dificultam a disseminação de vozes dissonantes”, comentou.
Para Amadeu, as plataformas como Facebook e Google acabam sendo reguladoras do debate público, sem transparecer para o usuário como realiza tal função. “As técnicas de modulação não são claras”, frisou, destacando que, nas redes sociais, é possível impulsionar conteúdo, o que já traz vantagem para quem tem dinheiro. “Concentração não é bom para Democracia, em nenhum lugar do mundo”, finalizou o sociólogo.