Covid-19: Após pressão do Sindjorce, empresas adotam medidas de proteção aos jornalistas

Após pressão do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce), empresas jornalísticas do Estado vêm adotando, desde a semana passada, medidas para proteger os operários da notícia e demais trabalhadores da Comunicação da pandemia de Coronavírus. Ações como afastamento de funcionários do grupo de risco (pessoas a partir de 60 anos ou com comorbidades), home office para funções que não necessitam de presença física e disciplina de higienização nos ambientes de trabalho e em externas são algumas das atitudes adotadas pelos gestores dos maiores grupos de mídia do Ceará.

Sistema Verdes Mares

No maior conglomerado de Comunicação do Estado, o Sistema Verdes Mares, que possui duas concessões de televisão, incluindo a afiliada da Rede Globo (TV Verdes Mares), a direção informou ao Sindjorce que “a cada dia, as decisões estão sendo tomadas”, tendo em vista a constante avaliação do ambiente de produção das notícias e a necessidade de ajustes nas rotinas de trabalho. Uma medida urgente adotada foi colocar em quarentena os profissionais que tiveram contato com o prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, que testou positivo para o Novo Conoravírus, e havia concedido entrevista ao vivo no estúdio da redação.

Além disso, trabalhadores do Diário do Nordeste e do G1 Ceará já exercem funções de suas residências. O grupo informou, ainda, que encomendou mais microfones para as equipes de telejornalismo, para que façam entrevistas, por exemplo, com pelo menos dois destes equipamentos, um para a fonte e outro para o repórter, evitando ainda mais o contato.

“Estamos dando o nosso melhor, deixando em casa o maior número de empregados possível e buscando garantir o melhor ambiente de trabalho para que eles se sintam seguros”, disse um diretor do Sistema Verdes Mares ao presidente do Sindjorce e diretor da FENAJ, Rafael Mesquita, que vinha cobrando, tanto por ligações quanto por mensagens de WhatsApp, os gestores das empresas jornalísticas. “Nessa batalha, nossos jornalistas são tão importantes para a população que podemos colocá-los no mesmo grupo dos empregados da saúde”, afirmou o gestor das empresas de mídia do Grupo Edson Queiroz.

O Povo

No Grupo O Povo de Comunicação, o trabalho remoto (de casa) foi a principal iniciativa adotada. A empresa atendeu solicitação do Sindicato, reiterada na sexta-feira, 20 de março, por ofício, e colocou, de uma vez por todas, todos os seus profissionais em regime home office, ajudando a conter o avanço da doença e preservando a própria saúde e de seus familiares. O comparecimento à empresa será evitado, mas, em caso de extrema necessidade, será sem contato físico com outras pessoas, em salas isoladas/separadas.

Também no jornal há profissionais em quarentena, depois de apresentarem sintomas da Covid-19. A articulação para a interrupção das atividades dentro do grupo contou com a participação do Ministério Público do Trabalho no Ceará (MPT-CE) e da Secretaria de Saúde do Estado (SESA), incluídos pelo Sindjorce no processo.

Sistema Jangadeiro

O Sistema Jangadeiro se pronunciou, em conversa entre a assessoria jurídica da empresa e o presidente do Sindicato dos Jornalistas, comunicando que também adotou medidas para preservar suas equipes de contágio da Covid-19. O grupo alterou a grade de programação da TV Jangadeiro, proporcionando mais tempo para seu principal telejornal e reduzindo a grade de entretenimento, fazendo escala de trabalho para diminuir a quantidade de pessoas na redação.

“Estamos reduzindo nossa força de trabalho e adotando de escalas de revezamento. As pessoas estão em home office e programas estão sendo descontinuados a partir de segunda. Mas isto está sendo neste momento alinhado com a rede SBT. Entendo sua preocupação e estamos correndo para dar segurança para todo”, disse o jurídico da Jangadeiro.

Também foram disponibilizadas duas pias para a higienização de todos os funcionários. O Sistema vai adotar aplicativo de transporte corporativo para que jornalistas não precisem se deslocar de ônibus até o trabalho. O ponto digital foi suspenso e gora será em formulário individual.

Grupo Cidade de Comunicação

O jurídico do Grupo Cidade de Comunicação informou por telefone ao sindicato que as medidas de higienização dos ambientes foram tomadas e os profissionais com sintomas de gripe ou resfriado estavam sendo colocados em quarentena ou para trabalho home office. Além disso, informou que estava sendo articulado uma equipe de contenção de riscos.

No sábado, 21 de março, Rafael Mesquita, em mensagens enviadas para o presidente do grupo empresarial, Miguel Dias Filho, reforçou a necessidade de mudanças no trabalho das equipes, como multiplicação de microfones para as pautas da TV, e chamou a atenção para a necessidade de afastar definitivamente trabalhadores do grupo de risco e colocar em home office os profissionais que fazem serviços internos, como a redação do portal CNEews, produtores, entre outros.

Já no domingo  (22/03), o empresário comunicou aos empregados que nesta segunda-feira, 23 de março, seriam colocados em trabalho remoto quem não tiver relação estreita com o jornalismo e a técnica, além do pessoal do portal online. Outras mudanças serão avaliadas hoje pela direção de jornalismo.

Outros empregadores

Nos governos estaduais e municipal da Capital e do interior, na estatal TV Ceará, nas empresas de assessorias de imprensa e comunicação e em outras organizações que contam com departamentos de imprensa, as medidas de segurança e saúde foram atendidas quase que espontaneamente, exceto no caso de profissionais que atuam diretamente junto ao governador e à Secretaria de Saúde, que estão na linha de frente da divulgação de informações desta pandemia.

No caso da Rede TV e da TV União, mesmo com equipes muito pequenas, ainda não houve posicionamento formal e nem por telefone, diferentemente dos demais empregadores que foram, de alguma forma, responsáveis e sensíveis à problemática. Embora as empresas confirmem o recebimento dos ofícios do Sindicato, informam que aguardam orientação dos superiores para responder. Nestes casos, o Sindjorce deve tomar medidas mais duras, como o encaminhamento formal de denúncias ao MPT-CE e ao judiciário.

Estagiários

Outra questão crucial foi a solicitação de liberação imediata de estagiários, público extremamente vulnerável na atual conjuntura. “O Sindjorce defende que esse grupo seja liberado de suas atividades, sem prejuízo da bolsa estágio, uma vez que as universidades estão sem aulas e o estudante de Jornalismo não pode ser utilizado como mão de obra em substituição aos profissionais. Além disso, cada pessoa num ambiente como uma redação é um vetor de transmissão do Coronavírus”, alerta o presidente da entidade.

Além disso, é preciso lembrar que a Lei Nº 11.788 é clara no Art. 1º em que diz “Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que estejam frequentando o ensino regular em instituições de educação superior (…)” e o ensino superior neste momento está com atividades suspensas. Após articulação do Sindicato, a maior parte das empresas de comunicação e outros locais de estágio confirmaram que os estagiários foram liberados do trabalho em suas respectivas sedes.

Entenda a articulação do Sindjorce

No dia 16 de março, seguindo orientação da FENAJ, o Sindjorce enviou ofícios aos dois sindicatos patronais da categoria no Estado – Sindjornais e o Sindatel -, bem como a todas as empresas jornalísticas e assessorias de Comunicação públicas e privadas, indicando uma série de medidas e solicitando a adoção das mesmas para mitigar os riscos de contágio dos profissionais da mídia no Ceará. No documento, foram apresentadas 19 iniciativas a serem adotadas pelos empregadores da categoria.

“Uma das medidas mais importantes para evitar a disseminação da Covid-19, segundo os especialistas, é adotar o isolamento social. Como o trabalho dos jornalistas nesse momento é mais do que indispensável, o Sindjorce e a FENAJ se anteciparam e apresentaram aos empregadores medidas que visam garantir a saúde e a segurança da nossa categoria”, destaca Rafael Mesquita.

Conforme o dirigente, são desde simples iniciativas como disponibilizar álcool em gel nos locais de trabalho a adotar o home office que, nessa pandemia, significa salvar vidas. O Sindjorce também solicitou das empresas de Comunicação que concedam os reajustes salariais das campanhas atrasadas, renovando as CCTs e garantindo os direitos de tão importante parcela de trabalhadores nesse cenário de adversidades.

Também como forma de garantir a integridade dos jornalistas cearenses, o Sindjorce o MPT-CE e a SESA sobre a preocupação com as práticas de algumas empresas jornalísticas que se mostraram resistentes a adotar medidas de proteção. “Ressaltamos que são os empregadores, em primeiro lugar, a quem cabe a responsabilidade de zelar pela segurança de seus funcionários”, frisa Mesquita. A articulação com a SESA levou o titular da pasta, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho (Dr. Cabeto), a destacar em live a importância de prevenção para os operários da notícia.

A Diretoria do Sindjorce seguirá atuando em esquema de plantão, recebendo denúncias, via e-mail (sindjorce@sindjorce.org.br) e WhatsApp (85 98970.8634), de posturas inadequadas por parte de empregadores, que ponham em risco a vida dos jornalistas.

“Nesse momento, é o trabalho do jornalista, desde que exercido com responsabilidade e sem risco de contágio, que vai ajudar a população a enfrentar essa pandemia. Nunca fomos tão necessários não só no ambiente de isolamento social como no combate à desinformação em massa. Por isso, precisamos ser respeitados e valorizados pelos patrões. O Sindjorce seguirá, incansavelmente, cobrando e fiscalizando cada empregador. É hora de fazer jornalismo, mas também de preservar nossas vidas”, finaliza Mesquita.

Exemplos de medidas de segurança para profissionais de imprensa:

– Mandar para casa jornalistas acima de 60 anos, pessoas com doenças crônicas e grávidas;

– Colocar em “home office” trabalhadores que exerciam apenas funções internas;

– Usar um microfone adicional nas entrevistas das reportagens jornalísticas, seja em conteúdo gravado ou ao vivo. Podem ser lapela, boom (microfone típico de novelas, que capta áudio a partir de um cabo suspenso) ou um microfone de mão exclusivo para o uso dos entrevistados, fazendo com que o repórter guarde distância de pelo menos 2 metros de sua fonte e não compartilhe seu equipamento;

– Mostrar para o público, de forma transparente, seja no vídeo ou através de comunicados, as medidas que toma para prevenir o coronavírus junto aos seus colaboradores;

– Suspender as gravações e edições ao vivo de todos os conteúdos de entretenimento, sejam novelas ou programas de auditório;

– Reduzir o número de pessoas compartilhando as chamadas “redações estúdios”, ambientes fechados e anteriormente aglomerados que poderiam ser potenciais para a disseminação do vírus;

– Lançar programação especial com informações sobre o covil-19, entre outras ações.


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