Covid-19 na Jangadeiro: Sindjorce leva caso ao MPT-CE

O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce) ingressou com pedido de mediação no Ministério Público do Trabalho no Ceará (MPT-CE) para tentar solucionar os problemas de contaminação de trabalhadores no Sistema Jangadeiro de Comunicação. Há registros de que oito profissionais teriam sido infectados pelo novo coronavírus na emissora, além de inúmeras situações de exposição dos jornalistas ao risco de adoecimento por Covid-19 na afiliada do SBT.

Tão logo foi decretado o isolamento social e o distanciamento físico no Estado, o Sindjorce encaminhou ofício aos sindicatos patronais e a todas as empresas jornalísticas, cobrando a adoção das medidas preconizadas pela Organização mundial da Saúde (OMS) para garantir a segurança e a saúde dos jornalistas nos locais de trabalho. No dia 15 de abril, o Sindicato encaminhou um novo ofício, desta vez dirigido diretamente à direção da Jangadeiro, de onde vinha a maior parte das denúncias de adoecimento. O Sindjorce solicitou, em caráter de urgência, que fosse adotado o teletrabalho para todos os jornalistas.

Em resposta ao segundo ofício, o jurídico da emissora enviou ao Sindjorce, o “Planejamento de Enfrentamento da Pandemia”, um documento no qual afirmava ter adotado medidas em resguardo à saúde de seus empregados. No entanto, caso essas medidas tivessem sido plenamente efetivadas, o Sindicato não haveria solicitado a mediação  ao MPT-CE e, seguramente, não haveria o clima de insegurança e de medo presente entre os jornalistas empregados da empresa. “Quiçá parte dos casos de contaminação de Covid-19 não teria sequer ocorrido”, acrescenta o presidente do Sindjorce, Rafael Mesquita.

O Sindjorce constatou que, mesmo após a empresa ter adotado seu plano de enfrentamento à pandemia, profissionais que integram o grupo de vulneráveis ao contágio do coronavírus ainda permaneciam realizando trabalho presencial, integrando equipes externas de reportagem, estando, portanto, sujeitos à maior risco de contaminação. “Diante disso, reiteramos nosso pedido de providências. Mesmo após esse novo ofício, profissionais do grupo de risco permaneceram tendo que comparecer ao local de trabalho, a despeito da grave realidade”, comenta Mesquita.

A realização de higienização dos locais de trabalho dos jornalistas, muito embora tenha sido comunicada aos empregados no dia 16 de março, somente veio a ser realizada em mais de um mês depois, no dia 23 de abril, depois de o Sindjorce haver enviado ofício à empresa. Nesse intervalo de tempo, entre o anúncio das medidas e sua efetivação, chegou ao conhecimento da entidade laboral que já era considerável o número de empregados com suspeita de contaminação ou mesmo com a confirmação de que eram portadoras do vírus.

“Aliás, os empregados que apresentavam sintomas sugestivos de Covid-19 não eram prontamente afastados do local de trabalho”, reforça Mesquita. Para o Sindjorce, não houve rigoroso controle da empresa para evitar a contaminação nas suas dependências. “Somente após a confirmação da doença é que, em muitos casos, ocorreu o afastamento dos jornalistas. Em certas situações, quando houve o afastamento, não foi cumprido integralmente o período de 14 dias de quarentena”, acrescenta o dirigente.

Conforme informações recebidas de empregados da TV Jangadeiro, tanto a Chefe de Recursos Humanos como a própria Diretora de Jornalismo foram acometidas pela Covid-19, tendo elas mantido contato com quase todos os empregados da empresa. Depois que veio a confirmação que ambas eram portadoras do vírus, qualquer um que apresentasse sintomas que sugerissem a referida enfermidade, logo era tomado pelo temor de estar contaminado, considerando o ocorrido em seu local de trabalho.

Diferentemente de outras emissoras, a TV Jangadeiro não explicitou, dentre as medidas por ela adotada, a aquisição para uso pelas equipes de reportagem de equipamentos extra, para evitar o seu compartilhamento entre entrevistador e entrevistado, conforme havia recomendado o Sindjorce. “Não há registro de que as equipes de jornalismo tenham sido orientados a utilizar lapela, ou boom (microfone que capta áudio a partir de um cabo suspenso) ou até de microfone de mão exclusivo para o uso dos entrevistados, que permita que o repórter guarde distância de pelo menos dois metros de sua fonte e não compartilhe seu equipamento”, enumera Mesquita.

Por fim, a direção da TV Jangadeiro determinou que seus repórteres cinematográficos passassem também a exercer a função de motorista dos demais funcionários que não dispunham de transporte próprio. “Além de um aumento de jornada, essa medida também  expôs estes trabalhadores a um risco ainda maior de contaminação pelo coronavírus e de infortúnio no trânsito”, explica Mesquita.

O Sindjorce requer a realização de audiência do MPT-CE com a Jangadeiro,
para tratar dos seguintes assuntos:

  • O teletrabalho/ home office como medida de enfrentamento da pandemia. Essa alternativa pode ter maior amplitude no âmbito da TV Jangadeiro, reduzindo o risco de contágio da enfermidade. É necessário que a empresa informe a quantidade de jornalistas profissionais que tiveram alterado o regime de trabalho de presencial para teletrabalho, especificando a função;
  • A redação de jornalismo e as ilhas de edição como locais de trabalho apropriado em tempos de pandemia. Estas unidades estão instaladas em salas minúsculas, o que torna inevitável a aproximação daqueles que lá trabalham. É insustentável essa realidade, quando o distanciamento entre as pessoas é medida básica para evitar a propagação da Covid-19;
  • Identificação dos profissionais de jornalismo que integram o grupo de risco frente à Covid-19 e a definição de medidas que possam intensificar ainda mais a proteção da saúde desses trabalhadores no atual cenário de contágio comunitário. Há, ainda, jornalistas empregados que, a despeito de compor o grupo de risco, continuam obrigados a prestar trabalho presencial na sede da empresa ou a participar de equipes externas de reportagem, o que se revela temerário;
  • Equipamentos utilizados pelos jornalistas, de maneira a evitar o compartilhamento de qualquer um deles com entrevistados;
  • Procedimentos das equipes externas de jornalismos que tenham como pauta a cobertura de qualquer evento junto às unidades de saúde. O Sindjorce recebeu denúncia da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará de que equipes de jornalismo têm, de maneira forçosa, pretendido adentrar em unidades de saúde e manter contato com pacientes na saída desses estabelecimentos. Como as pautas não são estabelecidas pela própria equipe que realiza a reportagem, é fundamental que existam regras claras de como há de ser realizada essa atividade.

Leia também:

Sindjorce pede home office total na TV Jangadeiro, depois de suspeita de Covid-19 na redação

Coronavírus: Sindjorce oficia empresas sobre medidas para proteger jornalistas


Warning: A non-numeric value encountered in /home/storage/8/f8/9e/sindjorce/public_html/wp-content/themes/Newspaper/includes/wp_booster/td_block.php on line 705

DEIXE UMA RESPOSTA