O Povo assedia jornalistas que protestaram contra reajuste de 1% e retirada de direitos

Categoria protesta contra a tentativa de redução de direitos históricos, além de vergonhosa proposta de reajuste salarial de 1%

A chefia do jornal o Povo está constrangendo moralmente os jornalistas que participaram das mobilizações do estado de greve, realizadas na porta da empresa, nos dias 22 e 26 de março. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Ceará (Sindjorce) tomou conhecimento que repórteres e editores adjuntos foram chamados em particular e comunicados que “quem descer para a próxima paralisação, não precisa mais voltar para trabalhar”.

O principal alvo da prática antissindical são os profissionais que ocupam os chamados cargos confiança na empresa, entre eles os editores que assinaram um abaixo-assinado solicitando da direção do jornal a manutenção de cláusulas históricas que configuram os principais direitos da categoria no Estado. Ao longo da semana passada e ainda esta semana, os trabalhadores têm sido chamados e constrangidos pela chefia.

A ameaça explícita feita aos jornalistas foi confirmada por profissionais de outros setores da empresa. “A ordem na portaria é: quem descer para a manifestação não pode mais subir para trabalhar”, informou uma pessoa, cuja identidade será preservada. Não se sabe se a direção cortará o dia de trabalho ou demitirá o funcionário que aderir aos protestos por melhores salários e manutenção de direitos.

Guerra de mentiras e corte da mensalidade sindical

Além de assediar repórteres e editores, a chefia do O Povo está promovendo uma verdeira guerra de mentiras contra a entidade sindical representativa da categoria. Os comunicados do Sindjorce foram retirados dos murais e à diretoria do Sindicato vêm sendo negados os pedidos de acesso à redação para dialogar com a base.

Outra medida de retaliação foi o corte no desconto em folha das mensalidades sindicais dos associados da redação do Grupo O Povo. Embora o Sindjorce tenha conseguido liminar na justiça para o retorno do desconto, o funcionário do Departamento Pessoal da empresa afirmou que não havia alteração na decisão tomada com base na MP 873/2019.

Cabe ressaltar que o Grupo O Povo deve R$ 20.300,38 ao Sindjorce de mensalidades e taxa assistencial descontadas da categoria e não repassadas ao logo de 2018. Numa demonstração de boa vontade, o Sindjorce não levou o caso à justiça, o que poderia ter feito e gerado multa elevada para o periódico, preferindo um acordo extrajudicial. Essa falta de repasse de recurso descontado do trabalhador configura apropriação indébita.

Assédio moral é danoso à saúde do trabalhador

Redação do O Povo praticamente vazia na tarde de 22 de março, quando foi realizada a primeira mobilização do estado de greve

A presidente do Sindjorce e segunda tesoureira da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Samira de Castro, avalia que os assédios foram gerados pela insatisfação do jornal com o engajamento dos jornalistas na Campanha Salarial 2018/2019. “Querem retirar de nós até o sagrado direito de espernear. Na primeira atividade do estado de greve, a redação ficou praticamente vazia”, lembra.

Para a dirigente sindical, os superiores não se dão conta da gravidade do que estão fazendo e acreditam que é uma conduta natural. “Precisamos refletir profundamente sobre o que isso significa e denunciar toda e qualquer tentativa de assédio moral ou prática antissindical nos locais de trabalho. Vários colegas procuraram os dirigentes do Sindjorce indignados com esse tipo de atitude”, disse.

Samira de Castro reforçou que, recentemente, um jornalista do Sistema Verdes Mares se demitiu ao vivo, ao final de um programa, em função dos assédios da chefia e da sobrecarga de trabalho sem a devida remuneração. “O caso do jornalista e narrador esportivo Kaio Cézar foi emblemático e um divisor de águas no jornalismo cearense. Os trabalhadores estão cansados de humilhações e superexploração”, pontua.

O Povo tem histórico de práticas antissindicais

Essa não é a primeira vez que a chefia do jornal mais antigo em circulação no Ceará se utiliza da política do medo para impedir a categoria de se organizar. Em, 2015, a direção também ameaçou os jornalistas que participaram do ato de protesto contra o “Reajuste Pão com Ovo”, na época, um aumento salarial de apenas R$ 4,26 por dia, que só dava para comprar o lanche.

“Disseram àqueles que tinham possibilidade de ascensão dentro da empresa que não era ‘recomendável’ participar de movimentos contra o jornal “, revelou um jornalista em 2015. “Como pode o jornal fazer isso?”, desabafou entre colegas um editor que participou da mobilização à época.

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