Jornalistas mostram experiências de jornalismo independente em busca de sustentabilidade financeira

Com a democracia brasileira em xeque, o jornalismo se torna mais necessário à sociedade. Iniciativas como o jornal Tribuna Independente (AL), a Marco Zero Conteúdo (PE) e o BRIO (SC) buscam oferecer informação independente e de qualidade aos públicos interessados. As histórias e estratégias de sustentabilidade financeira dessas iniciativas foram debatidas no último painel do IX Congresso Estadual dos Jornalistas do Ceará, realizado na tarde do sábado, dia 8 de dezembro, no Centro Cultural Belchior, com o tema  “Jornalismo independente e fora dos grandes centros: como fazer, quem financia?”.

O jornalista Laércio Portela explicou que a Marco Zero Conteúdo é um coletivo de jornalismo investigativo que aposta em matérias aprofundadas, independentes e de interesse público. Para manter a independência, não recebe patrocínios de governos, empresas públicas ou privadas. A sobrevivência depende de parcerias com algumas fundações e organismos internacionais, com a prestação de serviços editoriais,consultorias, realização de cursos, palestras e, principalmente, com a colaboração e doações voluntárias dos leitores.

Contando com dez integrantes (entre fundadores e colaboradores), a Marco Zero foca a produção jornalística em três pontos principais: semiárido nordestino, urbanismo e relações de poder. “Também abrimos espaço para a narrativa, publicando e incentivando ‘histórias bem contadas’. Além disso, publicamos material produzido por nossos parceiros editoriais espalhados por toda América Latina”. A Marco Zero também se propõe a ser um fomentador do debate sobre o futuro e as melhores práticas do jornalismo, aliando produção teórica, aperfeiçoamento profissional e aplicação prática das ideias e conceitos desenvolvidos.

O jornalista e fundador do BRIO, Breno Costa, iniciou sua fala destacando o conceito de jornalismo pós-industrial: é inquestionável a substituição do jornalismo atual por uma nova forma de exercer a atividade, dissociada de máquinas rotativas, papel, fitas magnéticas e celuloide. E não se trata apenas do advento da produção jornalística em meios 100% digitais, mas da falência de um modelo de negócios baseado na associação entre donos de jornais e anunciantes. “O problema não está na tecnologia, mas na identificação das consequências que ela está provocando na forma como os profissionais e o público passaram a se relacionar no campo da comunicação jornalística”, disse.

Costa destacou como resolveu se arriscar e lançar o BRIO, inicialmente voltado para a prática de grandes reportagens, com apenas R$ 3 mil de capital próprio, em 2015. “Ainda não encontrei o modelo de sustentabilidade, tanto que o cheque especial é meu amigo, mas não tenho medo de arriscar. O caminho possível é oferecer ao público conteúdo que tenha relevância e cause impacto na sua vida. O leitor ou telespectador só vai querer pagar pelo que for relevante para ele”, frisou. Hoje o BRIO é um polo de serviços desenvolvidos para freelancers, repórteres, editores e estudantes que querem praticar jornalismo em alto nível. Nessa linha, já está presente em mais de 120 cidades do Brasil, com mais de 500 jornalistas como clientes pagantes.

Uma das iniciativas que mais emocionou os participantes do congresso foi a história da criação da Cooperativa de Jornalistas e Gráficos do Estado de Alagoas (Jorgraf), que hoje edita o jornal impresso Tribuna Independente, o portal de notícias Tribunahoje.com e uma webtv. Segundo o jornalista Flávio Peixoto, diretor administrativo da Jorgraf, a Tribuna Independente nasceu depois que o antigo jornal Tribuna de Alagoas encerrou suas atividades sem que os antigos proprietários dessem alguma satisfação a seus 140 funcionários, que se sentiram desamparados naquele tempo com a perda dos postos de trabalho.

Os trabalhadores da empresa conseguiram se manter no mercado de trabalho, depois da criação do jornal Tribuna Independente e da fundação da Jorgraf, a única de duas categorias nessa especialidade, no Brasil e quiçá no mundo. Atualmente a Jorgraf é composta 30 jornalistas e 30 gráficos, mais os funcionários da área administrativa. “Dependem direta ou indiretamente de nossos produtos jornalísticos, cerca de 100 famílias, de forma que somos importantes para a economia alagoana”, disse. Peixoto chegou a se emocionar ao lembrar das dificuldades pelas quais passaram, desde a ocupação do prédio do antigo jornal, passando pela compra das máquinas em leilão e chegando à luta pela manutenção dos antigos anunciantes e conquista de novos.

Carro-chefe da cooperativa, o jornal circula diariamente com 20 páginas e aos domingos com 24 páginas. Hoje, a Tribuna Independente é o único jornal impresso diário de Maceió. Seu último concorrente encerrou a publicação impressa, demitindo dezenas de trabalhadores, e se mantém agora com um veículo digital. “Sabemos das dificuldades, mas nosso compromisso é com a informação. Também estamos investindo em novos formatos, tanto que compramos câmeras e estamos fazendo dois produtos de webtv“, comentou o diretor administrativo da Jorgraf.

 


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