Apenas em 2089, ou seja, daqui a pelo menos 70 anos, brancos e negros terão uma renda equivalente no Brasil. O dado é da pesquisa “A distância que nos une – Um retrato das Desigualdades Brasileiras”, da ONG britânica Oxfam, dedicada a combater a pobreza e promover a justiça social. A projeção comprova o que os estudos sociológicos sobre o Brasil explicam: os fenômenos que provocam as desigualdades de gênero e raciais são bastante complexos justamente porque estão relacionados a questões culturais e estruturais da sociedade brasileira.
A (negada) existência de racismo no país e suas consequências para a população negra serão debatidas no terceiro encontro do Curso Dandara dos Palmares – Gênero, Raça e Etnia na Comunicação. Com o tema “Existe racismo no Brasil? A falácia da igualdade racial e a folclorização da população negra”, a aula acontecerá nesta terça-feira (08/10), a partir das 18h, no auditório do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce). Os palestrantes da noite serão o professor doutor da Unilab, Luís Tomás Domingos; a assistente social e militante pelo direito à cidade, Adriana Gerônimo; e o teólogo e militante dos direitos humanos, Jamieson Simões.
O professor Luís Tomás Domingos irá conceituar os tipos os racismos. Em seguida, Adriana Gerônimo falará sobre o racismo e a cidade, abordando temas como segregação, violência, genocídio da população negra e “o olhar do outro sobre nós”. Já o pastor Simões abordará a temática “o racismo mata”, comentando sobre o extermínio da juventude/adolescentes negros, o aumento do índice de jovens mulheres negras assassinadas e a violência contra LGBTI+ negros/as.
De acordo com o Atlas da Violência, 65.602 pessoas foram assassinadas em 2017, o maior número de mortes violentas intencionais já registrado no país. O relatório, elaborado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), indica a relação dos casos de homicídio com a guerra às drogas, ao racismo estrutural, à LGBTfobia, ao machismo e ao porte de armas de fogo. Essa situação revela, portanto, aquilo que o povo mais pobre vive diariamente: a carência de políticas públicas, a violência estatal e a vulnerabilidade dentro do sistema que trata os corpos como mercadoria.
O Atlas mostra, ainda, que no Brasil 64% das pessoas em situação carcerária são negras, evidenciando o racismo estrutural que se perpetua no país e se reflete também nos indicadores de violência letal: 75,5% das vítimas de homicídios foram indivíduos negros. Em outras palavras, enquanto para os não negros a taxa de homicídios por cem mil habitantes foi de 16,0 para os negros foi de 43,1 a cada cem mil.
Perfil dos palestrantes
Luís Tomás Domingos – é formado em Filosofia – Seminário Maior de Santo Agostinho (1989) – Moçambique, possui a Graduação em Sociologie – Universite de Paris VIII (1996) – França; Graduação em Ethnologie – Universite de Paris VIII (1997) – França, Mestrado em Anthropologie et Sociologie du Politique et du Développement – Universite de Paris VIII (1998) – França; e Doutorado em Anthropologie et Sociologie du Politique – Universite de Paris VIII (2002) – França. Atualmente é professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Docente e Vice-Coordenador local do Programa Associado de Pós-Graduação em Antropologia – PPGA da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB). Docente do Programa de Pós-graduação, Mestrado Acadêmico em Sócio-Biodiversidade Tecnologias Sustentáveis – MASTS, UNILAB. Docente do curso de Antropologia – UNILAB. Coordenador do Núcleo dos Estudos Africanos e Afro-Brasileiros – NEAAB – UNILAB. Tem experiência na área de Antropologia e Sociologia da Política, com ênfase em Antropologia Social e Cultural, atuando principalmente nos seguintes temas: identidades sociocultural e política, étnico-raciais, religiosidade de Matriz Africana, estudos Africanos e Afrodescendentes, África, Brasil.
Adriana Gerônimo – graduada em Serviço Social, atualmente é Presidente da Fundação Marcos de Bruin; compõe o Fórum de Moradores do Lagamar, é militante pelo direito à cidade, em especial pela regulamentação da ZEIS em Fortaleza, membro do Grupo Jovens em Busca de Deus (JBD) Lagamar, integra a Frente de Luta por Moradia Digna e o Campo Popular do Plano Diretor de Fortaleza, também faz parte do Fórum Popular de Segurança Pública do Ceará e da executiva do Nordeste.
Jamieson Simões – é graduado em Teologia e atua como militante dos Direitos Humanos há mais de 20 anos. Atualmente é consultor do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e pesquisador no Laboratório de Estudos da Conflitualidade e da Violência (Covio) da UECE. Participou como assessor do Comitê pela Prevenção de Homicídios na Adolescência e da coordenação do Fórum DCA e do Fórum de Prevenção à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes. Trabalhou em Organizações da Sociedade Civil para Infância, como a Visão Mundial, a Diaconia e o Instituto Terre des hommes. Foi diretor do Centro Socioeducativo São Francisco, recebendo a indicação de “Promotor da Paz” pela Global Unites, por conta da mediação de conflitos em territórios vulneráveis de Fortaleza.