Curso Dandara dos Palmares: “Políticas Públicas e Desigualdade Racial” é o tema do quarto encontro

Embora a escravidão esteja legalmente abolida no Brasil há 331 anos, nenhum direito foi assegurado aos negros logo após sua proclamação, em 1888. Sem acesso a terras e a qualquer tipo de indenização por três séculos de subjugo, muitos permaneceram nos locais em que antes eram explorados ou se submeteram a trabalhos pesados e informais. As condições desumanas não se extinguiram por completo, o que reflete diretamente no contexto atual da população negra brasileira e leva ao conceito de “abolição inacabada”. Se no momento da abolição não houve uma forma de compensar o longo e violento processo ao qual negras e negros foram submetidos e a mentalidade dos brancos não mudou pela simples outorga da lei, o que de fato foi feito para assegurar igualdade racial?

É nesse sentido que se define racismo estrutural. Trata-se de uma série de hábitos, práticas e comportamentos intrincada nos costumes de uma sociedade e que promove, de modo direto ou indireto, disparidade e preconceito racial. Para o sociólogo Jessé de Souza, não é a corrupção a condição fundante do estado e da sociedade brasileira, e sim a escravidão. A Lei de Cotas, por exemplo, que ganhou visibilidade no Brasil a partir dos anos 2000, é uma forma de reparar historicamente o abismo e os danos sociais provocados pelo racismo desde 1550, cujo objetivo é integrar a população negra no cenário universitário e, por conseguinte, no mercado de trabalho. Combater o racismo estrutural, portanto, é tarefa dos governos e da sociedade civil.

Para falar sobre “Políticas Públicas e Desigualdade Racial”, a professora doutora Zelma Madeira, coordenadora Especial de Promoção de Políticas Públicas para a Igualdade Racial do Estado do Ceará, estará nessa quinta-feira (10/10) no auditório do Sindicato dos Jornalistas do Ceará (Sindjorce). A aula encerra o Passo 1 – Uma perspectiva de raça e etnia na Comunicação, do Curso Dandara dos Palmares – Gênero, Raça e Etnia na Comunicação. O quarto encontro dessa fase inicia às 18h. Aos cursistas, a coordenação solicitou que levassem por escrito resposta à seguinte pergunta: Jornalistas, radialistas e demais comunicadores teriam um compromisso com políticas de reparação?

Para a segunda vice-presidenta da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e diretora de Comunicação, Cultura e Eventos do Sindjorce, Samira de Castro, o curso tratou de fazer o resgate histórico das condições da população negra pós-abolição, que inclusive possibilitam a compreensão da expressão “abolição inacabada”, para que a sociedade compreenda a função e a necessidade das chamadas ações afirmativas adotadas no Brasil e no Ceará. “Quando passamos a entender que os privilégios e as diferenças existem desde aquela época e que temos um reflexo disso agora na sociedade, conseguimos também propor mudanças e alterar a realidade”, explica.

Para o presidente do Sindjorce e diretor de Mobilização da FENAJ, Rafael Mesquita, o Curso Dandara dos Palmares já é um marco na trajetória das entidades e chega hoje ao seu quarto encontro. “Vamos colocar em pauta as políticas públicas e a desigualdade racial. Qual o papel da mídia nisso tudo? Comunicadores são também responsáveis por pautar políticas públicas de reparação? Além disso, há reparação na representação do povo negro nos meios de comunicação? Ansioso por mais uma noite de aprendizado e debate!”, comenta.

Perfil da palestrante

Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal do Piauí (UFPI), Zelma Madeira é doutora em Sociologia, pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Ela é professora da graduação e do mestrado do curso de Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará (UECE), onde também coordena o Laboratório de Afro-brasilidade, Gênero e Família. Zelma é líder do Grupo de Pesquisa de Relações Étnico-raciais, Cultura e Sociedade da UECE.


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